10 de Junho: quero crer em Portugal
Acredito em Portugal. Não pelo facto de ter nascido no seu território por um acaso divino, do providencial Deus único, judaico-cristão, ou da pluralidade dos divinos, greco-romana, onde emerge a fortuna, com uma venda nos olhos, nesse fortuito que nos prende sem libertar.

Acredito em Portugal, como ternas algemas que nos podem libertar e não pela mera circunstância ocasional de ser portador de um bilhete de identidade que me atribui a qualidade de cidadão da República Portuguesa, de acordo com cinzentas leis de burocratas disponíveis para o carimbo da conformidade com uma qualquer fórmula abstracta.

Quero saber Portugal como realidade exotérica e tentar pensá-lo como entidade esotérica, isto é, como identidade cultural a que, enquanto português, posso e devo aceder, por um esforço de amor e de intelectualização, onde importa uma quase conversão.

Portual é um acaso que podemos transformar, por convicção, numa necessidade, nesse amor de pátria que pode tornar-se real no interior de cada português. Para que a pátria, expropriada pelo estuadualismo, se não transforme numa heteronomia, susceptível de produzir alienação.

Os portugueses de todos os quadrantes têm de exorcizar todos os fantasmas que impedem a efectiva libertação de Portugal e de cada um dos portugueses.

Os portugueses têm de refundar, reestabelecer e reinstaurar Portugal (Agostinho da Silva).

Porque, como dizia Antero de Quental, o todo é mais um caos que coisa susceptível de definição. É o ponto em que se encontram todas as diversidades que foram a grande desarmonia. Há uma fermentação de elementos contraditórios de uma coisa que vem ainda longe, no meio da dissolução de uma coisa que não pode já voltar
 

posted by J. A. | 10:07 PM