10 de Junho: Portugal também é pátria
Portugal também é pátria. A terra dos nossos antepassados, a terra sagrada pelo suor e pelo sangue dos nossos avós, que a desbravaram, defenderam, regaram e semearam.

Nesta terra construímos a nossa casa, a nossa eira, o muro do nosso quintal. Casa a casa, fizemos a aldeia e, caminho a caminho, nos fomos unindo em freguesia

Por fim, erguemos a comunidade pátria com federação das nossas muitas pequenas pátrias. É a nossa santa terrinha, a que veneramos, mesmo quando dela nos distanciamos, pelo exílio, pela emigração, pela expansão.

Nascidos daquilo que Agostinho da Silva qualificou como o comunitarismo agro-pastoril e uma economia de cooperação, bem diversas do ética do capitalismo protestante, também nos conformámos num regime que era um agregado de repúblicas municipais, cada qual com a sua própria necessidade de constituição, e assim fomos construídos a ferro e a foral, pelos conquistadores e pelos juristas.

Aliás, o nosso rei medieval, não governava, coordenava, não se fixava num centro, como veio a ser Lisboa, dado que preferia andar pelo país. Até era um rei de eleição, porque podíamos escolher um rei em vez de outro. Era uma espécie de rei-democrata, ordenador de repúblicas municipais.

E, do sentimento pátrio, fizemos saudade. Somos, assim, saudosistas, não com o sentido passadista, mas com pessoanas saudades de futuro.

Porque, voltando a Agostinho da Silva, Portugal era um delicioso cais de partida, para dar a volta.

Aliás, o patriotismo é o contrário do uniformismo. É o direito à diferença. E porque a história nos fez nação, fomos, pouco a pouco, construindo uma cultura distinta no universal.

Somos assim tradicionalistas. Porque ser tradicionalista é recuarmos para melhor avançarmos. Porque só é novo aquilo que se esqueceu. Porque só é moda aquilo que passa de moda. Porque o moderno já foi antigo de que o antigo há-de ser moderno. Porque tudo o que é novo é o que vem de trás, reelaborado para um novo fim. Só há o verdadeiro, que tendo tempo e lugar, fora do tempo que nos prende.

 

posted by J. A. | 11:04 PM