Quinta-feira, Junho 12, 2003
Nas raízes da minha pequena
pátria
Aqui à beira-mar, na praia primeira dos meus dias. E sempre a areia molhada
da manhã. Aqui, nas raízes da minha pequena pátria, o próprio centro do
mundo, neste beira-mar de Portugal, a perder de vista. Além, na curva do
horizonte, a aldeia dos meninos loiros e das mulheres de xaile negro. O
espaço deste povo de pescadores e lavradores, arando as águas e colhendo as
redes. O tempo todo, no vaivém das onda, o eterno movimento que a vida não
detém.
O mar, hoje, veste-se de verde cinzento e o um tímido azul se dilui na
tristeza de uma névoa esbranquiçada. Sinto que a pátria é estar aqui assim,
diante de mim mesmo. Viajar por dentro da memória e sentindo meus estes
caminhos de terra batida, estas sombras, poder voltar ao silêncio da serra.
Pátria é estar aqui e ser antigo, estar aqui, aquém, além, com minha gente à
minha beira.
Ter o nós dentro do eu
Restos de fogo no esvair deste crepúsculo de Junho, quando os dias tardam em
ser noite e as cigarras, muitas, nos acalentam, vencendo restos de vento,
esquecendo o tempo, nestes sinais de um Verão que vem chegando. É o
crepúsculo sustendo-se, para que, passeando pelas ruas da minha terra, volte
a saudar os velhos sentados nos beirais. Que o tempo todo seja sempre este
interregno, a breve pausa que antecede a amargura do regresso ao "stress" de
todos os dias, ao desencanto de uma cidade que perdeu sentido.
De nada vale sentir a mensagem que ninguém cumpre por dentro de si mesmo.
Deixa que a hipocrisia se esboroe, nós feitos pasta de um unidimensional
rebanho de quem se tornou pastor a golpes de cajado e de insídia. Prefiro
sentir a história vivida, aqui e agora, como novo drama.
Em nome da comunhão pelas coisas
que se amam
E desculpem que escorra, deste blogue, muito que dentro de mim resguardo. O
blogue é apenas um pretexto para convidar todos os outros a olhar mais por
dentro. Para que uns e outros nos sintamos nós. Pedaços diversos de um ser
comum. Blogue pode ser um pouco mais do eu de cada um, tentando trazer o nós
dentro do eu, tentando desvendar a pátria que todos sentem, essa pátria dos
homens comuns, essa comunhão pelas coisas que se amam e que nunca poderá ser
definida por abstractas doutrinas, nem decretada por autoritários donos.