Memória de São Francisco
Viver é saber saborear
a poesia dos silêncios procurados.
Sentir o realismo de uma flor,
chamar irmão ao sol,
irmão ao lobo
e livre, silvestre,
vencendo muros e algemas,
ter a ilusão de me cumprir
como ser que nunca se repete.
Esse fim de si mesmo,
na divina dignidade humana,
feita à imagem e semelhança,
de um homem qualquer
que a multidão despreze.
Sentir a profunda diferença
que nos faz universais
e viver acontecimentos
que também nunca mais sucedem,
Religados, vivos,
pela raiz da identidade,
só conseguimos ser unos
na plural diversidade.
O homem é que faz a história
sem saber que história vai fazendo.
Eis o mistério de viver:
procurar por procurar,
sem me preocupar porquê,
para, de novo, regressar,
neste vaivém de viver
que é cair e levantar-me,
sentindo que sou mais além
no sítio que me deu mãe .
Viver é nascer de novo,
descobrir meu signo
no próprio ovo.
Ir além de mim,
perder meu corpo,
e diluir-me
no sonho donde provim.
Até sempre, se Deus quiser!
posted by J. A. | 3:35 PM