Caro
J.A.
Verifico que o seu blog desapareceu. Ontem, depois de ler que iria
descontinuar a patuleia, escrevi um post no meu (visto que o seu já não
existe, posso dizer-lhe que é o 100nada) exactamente sobre isso, os blogs
descontinuados que continuavam online, parecendo-me isso, de alguma forma,
uma falta de dignidade.Se acaba, acaba. De alguma forma e não o conhecendo
de lado nenhum, tinha quase a certeza que o seu iria desaparecer mesmo.
Confirmei isso agora, escuso de lhe dizer que com grande pena minha. Mas
estou certa de que continuará a escrever noutros lados.
Peço-lhe autorização para colocar no meu o seu 'elogio ao blog'.
Melhores cumprimentos e felicidades
C.
Caro
J.A.
Em primeiro lugar, não me chamo Amilcar Carrapato. O Amilcar é um velho
amigo, 'personagem' noutras andanças, mantenho o email para
eventualidades.
Como esta. Mas não o quero maçar com grandes explicações. Apenas lhe
escrevo
porque leio o seu blog, a 'patuleia'...confesso a minha falta de paciência
para textos muito compridos de cariz mais politico, mas vou lendo (o seu
blog e mais uns quantos, bastantes para ir tirando as medidas à tal
blogsfera), talvez à espera de encontrar um momento ao qual retorne,
primeiro com espanto, depois por gosto, um daqueles que se guardam. Como
este seu:
'Têm os blogues a beleza do breve, da nota solta que se esvai num écran,
ou
numa folha de papel. São folhas que voam num ápice, na brisa do tempo que
passa. Até podem ser introspecções, restos de poema por cumprir. Ou farpas
difusas, ferroadas, palavras contra palavras, num corropio. '
Abomino os cumprimentos inter blogs. Cheiram sempre a graxa e a uso,
principalmente se forem de um blog novo para um dos mais citados. Essa é a
razão de usar o endereço do Carrapato. Não gosto que as coisas se
confundam:
o seu texto é muito bonito. Só lhe escrevo para lhe dizer isso. Nada mais.
Melhores cumprimentos (anónimos)
C.
Li
agora o 100nada e foi-me dado compreender a sua carta. Não vou dizer o
que me levou a extravasar a tolerância de frequentar certas praças públicas.
Não fugi. Há lugares próprios para o ritmo que levei a cabo, numa breve
experiência de um mês apenas, onde corria o risco de ter que entrar num
rebanho contra outro rebanho, diluindo-me no atávico colectivismo moral dos
nossos contra os outros. Se voltar, será o mero individual, falando para
outros, para dentro, nestas viagens de silêncio e solidão. Digo que li tudo
o que de 100 muito tinha. Que ao contrário dos muitos "delete" que fiz nos
favoritos, o 100nada ficou, para ir prendendo coisa com coisa, compreendendo
que, afinal, há quem seja tão diferentemente igual. E assim vou conhecendo
quem desconheço. Para que um dia talvez possa conhecer.
JAM