O poder de nomeação
Foi uma semana de curiosas cascas de banana, com muitos ódios à mistura, mas juro que não tenho mulher-a-dias e não convidarei ninguém a descerrar os retratos e os bustos que guardo em casa, porque sempre podem aparecer uns pirómanos dispostos a levar para a fogueira alguns dos meus livros, a sulfatarem de burguesismo as minhas provincianas raízes, a exterminarem a minha falta de camisas e outras loisas. Prefiro citar o meu companheiro de crenças, Professor Doutor Paulo Ferreira da Cunha, assinalando uma "prevenção excepcional": que "há círculos ultra-minoritários, muito selectos, em que o ser-se de direita, da pureza da "direita" (expressão dita com enlevo quase religioso) é que é o santo e a senha. Aí compensa ser de direita, uma direita que se emula com a "esquerda caviar" (e à qual já ouvi chamar "direita jaguar", expressão porém ainda sem curso legal), e por isso, tal como ela, tem a mesma concepção ritualística da propriedade dos nomes e dos labéus. Tal como a esquerda intelectualista e purista, essa direita crê que o poder lhe é devido por um qualquer direito divino, e ter poder é, antes de mais, nomear as coisas. Poder genesíaco original que o "primeiro rei", Adão, teria tido ao pôr o nome aos animais - assim o diziam os velhos autoritários ingleses, que Locke refutou no Segundo Tratado do Governo Civil".