Fascismo pretensamente
antifascista
Nunca gostei muito de pidismo pretensamente antipidesco nem de insinuações
inquisitoriais de “jet set”, feitas de fascismo pretensamente antifascista.
Por isso, sempre detestei certa direita sem ideias, que, por seguir a
cartilha do marialva, continua a ser a mais estúpida do mundo. Coitados, dos
que apenas sabem fazer ataques pessoais, trocando o nome das fichas da
“formiga branca”, da PIDE e do COPCON! Até julgam que têm direito de
insultar os pobres paizinhos dos pretensos plebeus “feios, porcos e sujos”
que, segundo eles, apenas têm a obrigação de bater palmas aos filhos da
gente fina que, de vez em quando, vão às feiras visitar o povo, com a mesma
chapeleta com que fazem caça nas coutadas dos primos da linha de Cascais.
A direita que convém à esquerda
Noutro plano, aparentemente mais elevado, também sempre incompreendi os que
pensam que a direita é uma simples posição geométrica, definível pelo acaso
histórico. Penso naqueles que, em 1974, não estavam à esquerda dos que se
quiseram rigorosamente ao centro e de quem não temos que sofrer as
freudianas reviravoltas serôdias provocadas pela educação salazarenta.
Refiro-me, evidentemente, a mais uma das sempiternas lucubrações de um
marechal da dita direita que persiste em querer ser a única autoridade capaz
de emitir certificados de “nihil obstat” sobre a democraticidade das
direitas que possam emergir até ele morrer.
Prefiro dizer que se eles fossem as únicas direitas a que temos direito, eu
ia, com a extrema-esquerda, para a Maria da Fonte e para a Patuleia. A fim
de mandar os Cabrais para o marquesado e o grão-mestrado, antes que eles nos
impusessem outra Convenção do Gramido, em nome de uma nova Quádrupula
Aliança capaz de gerar um novo Porto Rico.
O princípio único de toda a
Política é a Moral
Por mim, prefiro seguir a velha lição liberal de Luís Mousinho de
Albuquerque, para quem “o princípio único de toda a Política é a Moral.
Finanças, interesses materiais, formas de Governo, tudo é adventício, tudo é
subordinado a esse princípio único. Tudo são entidades secundárias, tudo são
acessórios do edifício da existência social”. O valor fundamental é a
“independência portuguesa” e o “carácter nacional”, importando “servir o
Estado...o Estado, a República...este dever todo moral, todo patriótico”.
Ser excentricamente concêntrico
Seguindo tal exemplo, importa ser “excêntrico a todas as parcialidades, a
todas as exclusões, a todas as intolerâncias, para poder ser “concêntrico
com a nação”, para que “a nação seja governada para a nação e pela nação.
Quer ser governada no interesse de todos, e não no interesse de alguns; quer
ser governada pela influência colectiva de todos, e não pela influência
exclusiva de uma parcialidade”; quer “o concurso de todas as virtudes, de
todos os talentos, de todas as probidades para presidir aos seus destinos,
sem distinção de cores, sem exclusões partidárias”.
Contra as paixões, ódios e
vinganças
Por isso, há que assumir uma “bandeira nacional”, que seja “excêntrica a
todas as paixões, a todos os ódios, a todas as vinganças”, em nome do
“desejo do povo que não aspira à governança, mas sim à felicidade”. Por um
“governo representativo, não em nome, mas em realidade”. Por “um regime,
verdadeiro e sincero”, para que a nação seja “governada com justiça, com
verdade e com amor; porque mal dos povos que não são governados com amor,
mal das nações que são regidas sem sinceridade.
Da gangrena moral ninguém
ressurge
Podem as nações ter “a faculdade de renascer pela reacção contra a força;
mas da gangrena moral ninguém ressurge, não é essa gangrena uma das
fermentações tumultuosas que transformam uns produtos em outros; é a
fermentação pútrida, que destrói radicalmente o ser orgânico, que desagrega,
que dispersa os átomos componentes”.
Contra os bombeiros pirómanos
Compreendo a fúria deste neopidismo, bem ultraconservador no seu
infra-estrutural inquisitorialismo. Muitos sentem-se agora coactos pelos
incêndios que geraram, procurando assumir-se como aqueles bombeiros
pirómanos da anedota real.
29 de Maio posted by J. A. | 1:22 AM