Desafio para duelo
O abaixo-assinado, pensador assumido, conhecido miguelista, ultramontano, talassa, integralista, fascista e reaccionário, vem, por este meio, declarar que está disponível para um duelo com o camarada-inimigo Gato Fedorento, dadas as afinidades felíneas bem evidentes e as pouco cheirosas qualificações que os caracterizam.
Deixa ao adversário a escolha da hora e do local, mas põe algumas condições quanto as armas a utilizar. Com efeito o signatário, apesar de ter muitos bustos em casa, não herdou, de nenhum dos seus avoengos, o famoso cacete e também não o aburguesou para bengala, nem o esquerdizou como punho cerrado. Da violência plurissecular dos respectivos egrégios, mantém apenas a sublimação gestual do Zé Povinho, a que jamais renunciará, e, de vez em quando, vai ronronando aquelas expressões cheias de "f...words" da boémia coimbrã, onde foi gerado, e que constituem um óptimo substituto dos calmantes.
Não tendo ficado com todos os dentes partidos, por causa da acção directa de Álvaro Cunhal, quando este os queria partir à reacção, conseguiu, no entanto, escapar do Campo Pequeno de Otelo Saraiva de Carvalho. Sugere, portanto, que se utilizem unhas brancas e pretas e que se escolha um local suficientemente suspeito, entre o Cemitério dos Prazeres, sem que as secretas nele marquem encontros para fuga de informações, e o Palácio das Necessidades, antes deste ir à falência.
Julgo que as boas ideias, para o poderem ser, se não passarem à fase das garras, das dentadas e doutras bem populares emoções, são ideias pelas quais não vale a pena lutar. Aguardando vossa felínea anuência, subscrevo-me com toda a raiva adversária. Deixo ao critério de vossa fedorenta gataria o processo de escolha de juízes suficientemente infames.
José A. M. (A de Agostinho, M de Macedo)

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Posted by J. A. to Pela Santa Liberdade! at 6/4/2003 08:54:44 AM