Em defesa de Leo Strauss
Confesso que sou um leitor que segue com prazer as crónicas de Alfredo Barroso nesse semanal repositório de quem fingimos ser chamado Expresso, porque neste as falsas vanguardas nunca reparam que acabam por ser o mais conformista dos situacionismos. Mas Barroso interpela-nos sempre com seus requintes camilianos e, às vezes, acaba por trocar a ordem das coisas, sem voltar a pôr as ditas na devida prateleira donde as foi buscar, no que é sedutor.

 


 

Contra os straussianos de trazer por casa (branca)
Por isso, sem defender os rumsfeldianos, a quem vivamente tenho contradito, mas sem seguir as pisadas do tio do mesmo dr. Alfredo, bem como de um dos próximos medalhados no 10 de Junho, especialista em descobrir que tudo o que se lhe opõe é sórdido, quero aqui defender a honra de Leo Strauss, que não pode confundir-se com os chamados straussianos de trazer por Casa (Branca).

 


 

Não confundam os criadores com as criaturas
Tal como os cristãos não são Cristo e os marxistas não são Marx, importa reparar que as ideologias são criaturas que se libertam do invocado criador. Marx diria, face ao Gulaga, que não era marxista. E Strauss diria, face àquilo que escreveu Barroso, praticamente o mesmo.

Dizer que Leo Strauss é o Marx de Bush é o mesmo que reduzir Maomé a Bin Laden ou João Paulo II, a um dos comendadores da DCI que acumulava com a Máfia.

Quase equivale a dizer que os socialistas podem ser nacionais-socialistas ou que os liberais acabam todos em Jirinowski.

Uma ideologia nunca se confunde com a ideia invocada, até porque os fiéis da dita, porque vivem mais e da emoção e do dito, podem não ter infra-estrutura para receber o subsolo filosófico do mestre que convenientemente invocam.

 


 

Abaixo os mestres-pensadores
Strauss, o ilustre judeu alemão, feito cidadãos norte-americano, sempre insinuou que não pode haver mestres-pensadores, pelo que invocar o nome de Strauss em vão pode levar-nos ao ridículo, mesmo que o suporte das desgarradas citações venha em certas revistas a que, quem conhece a rede, pode aceder imediatamente, quotidianamente.

Ao contrário de ontem, os avançados de hoje já não são os que acedem, com maior velocidade, aos pacotes remetidos de Paris, através do expresso de Vilar Formoso.

É evidente que o dr. Alfredo Barroso não é destes, digo-o sem ironia e com toda a solidariedade camiliana, e, de certeza, que compreenderia a razão deste meu protesto de straussiano sem straussianês, dado que também eu quero desmantelar os rumsfeldianos, principalmente os da nossa casota, mas utilizando a própria fundura de Leo Strauss, sem citações truncadas.


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Posted by J. A. to
Pela Santa Liberdade! at 6/7/2003 04:24:26 PM