Iluminados à
procura de novo déspota
Sempre detestei toda a espécie de absolutismos, bem como a casta dos
intelectuários que continuam à procura de um qualquer cacete que possam
esclarecer, em troca da prebenda ou da comenda. Daí que ponha no mesmo plano
de coisa abjecta, tanto os absolutistas defensores do trono e do altar,
quanto os rebespierres que poderão voltar a usar a guilhotina para nos
tornarem súbditos da Santa Razão.
Abaixo o positivismo
Da mesma maneira repudio os positivistas que continuam à procura da religião
única da humanidade. Que ainda há por aí alguns seguidores de Auguste Comte
que nos querem pintar de verde, mesmo quando se assumem como defensores da
selecção das elites, essa nova ilusão de raça pura.
Abaixo o elitismo
Estou a pensar nos que acreditam que só, de certas escolas, saem os
super-homens da raça dos senhores. Que só, de certas famílias, podem emergir
homens de génio. Que só, de certos colégios, podem ejectar-se os novos
plantadores dos amanhãs que cantam.
Detesto todos os elitismos congreganistas, incluindo os dos próprios
anti-congreganistas.
Quero um seguro contra o absolutismo
Muitos não querem compreender que o tradicionalismo sempre foi o seguro mais
eficaz contra aquilo que foi e continua a ser o absolutismo, essa
bestialidade que, depois, se transformou em autoritarismo, cesarismo e
totalitarismo.
Contra progressistas e reaccionários
Muitos não ousam concluir, a partir da observação da história, que o vício
do progressismo, despoticamente terrorista, infectou o próprio irmão-inimigo
reaccionário. Que continua a passar da esquerda para a direita, da direita
para a esquerda, mesmo que, eventualmente, possa parecer do centro.
Um
povo feito de muitos povos
Detesto, por isso, que tentem transformar meus restos de pátria numa
república de professores, numa república de militares, numa república da
classe política, numa república de advogados ou numa república de juízes.
Prefiro que ela resista como uma república de povo, feito de muitos e
variados povos.
Que
venha D. Sebastião
E muito republicanamente desejaria que nos chegasse um D. Sebastião, que se
restaurasse um qualquer nobre povo, uma qualquer nação valente. Mas que
nunca se restaurasse D. José I ou D. João III. Prefiro as cortes de 1641, as
cortes de 1385, as leis fundamentais que nos trouxessem de volta os foros
medievais, a coroa aberta de um D. Dinis, com um reino não-monárquico, à
espera que D. João II pudesse semear a armilar do estilo manuelino, essa
nossa perdida Idade de Oiro, em torno da qual poderíamos fazer a necessária
revolução evitada.
Detesto intelectuais iluministas
Detesto intelectuais iluministas. Esses que pensam que pensam só porque
dispõem de púlpito e que, aí, tiveram um qualquer encontro imediato de
primeiro grau com a luminária do que pensam ser o transcendente. Detesto
todos os que usam da sanha diabólica e que a consideram vinda do altíssimo.
Contra a constituição-pudim de monsieur Valério
Detesto certos filhos de Auguste Comte, mesmo aquele que é representado pelo
que foi o presidente do Instituto Auguste Comte, na terra onde este nasceu.
Um tal Valério que agora é de direita mas que, outrora, inventou o
rigorosamente ao centro e nos quer impingir uma constituição-pudim, onde,
eventualmente, todos chegarão a acordo, mesmo que não saibam em quê.
Nacionalista por princípio e federalista por conclusão
Cá por mim, nacionalista por princípio e, eventualmente, federalista por
conclusão, porque sou um federalista ferozmente antijacobino, desejo uma
Europa como a nação de nações e a democracia de democracias, onde até não
repudio um Estado feito de muitos pequenos, médios e grandes Estados, numa
complexidade que ultrapasse a cortesã procura do Texto.
Contra os engenheiros de conceitos
De nada nos pode servir a redacção de muitas cláusulas gerais equívocas, de
muitos conceitos indeterminados. Prefiro muitas lacunas cheias de crenças,
plenas de valores. Não vale a pena substituirmos o sonho por uma pirâmide de
conceitos, usar muitos engenheiros conceptuais, vestidos de beca, quando nos
faltam sonhadores activos, europeus à solta, dotados de imaginação criadora,
com pragmatismo e aventura. De nada nos serve uma pretensa teoria geral,
higienicamente assexuada, para ser executada pelos funcionários de Bismarck,
mesmo que sejam deputados ao Parlamento Europeu. Desses que assentes no
pretenso centro do comunitarismo, espalhem seus missionários e agentes pelas
periferias para melhor nos poderem colonizar, em torno de um pronto-a-vestir
de boa marca. Prefiro a feira de Carcavelos, porque uma constituição valéria
pode ser pior emenda que o soneto.
Português e europeísta
Continuo federalista e nacionalista, português e europeísta e, portanto,
contra todos os modelos de Estados e Super-Estados de marca jacobina, venham
do jacobinismo de direita ou do jacobinismo de esquerda. Nisto, até continuo
a ler e a reler Proudhon e a reflectir nas farpas que nos deixou contra a
herança soberanista.
Pela
pluralidade dos políticos
O político tem que passar sempre pela pluralidade dos políticos. Porque,
sobre o mesmo espaço de terra e sobre o mesmo pedaço de gente, pode
estabelecer-se uma rede de pertenças políticas, uma poliarquia de
participações cidadânicas, com variadas repúblicas e articulados aparelhos
de poder, mesmo que passem por uma pluralidade de Estados. A poliarquia não
exclui a unidade. Porque a unidade nunca foi unicidade, unidimensionalização,
terramoto pombalista para que um arquitecto iluminado nos trace o futuro,
segundo um qualquer desenho geométrico.
Evitar que os Estados destruam o político
Tenho que repudiar, aqui e na Europa, qualquer tentação de centralismo dito
democrático e todas as degenerescências de um novo pombalismo comunista.
Mesmo aqui e agora, a necessária restauração da autoridade do Estado, passa
por comprimirmos a extensão do aparelho de Estado. Politizar o Estado,
evitar que o Estado destrua o político, impõe que se diga menos Estado e
mais política. Menos público em quantidade e mais público em qualidade.
Não pode confundir-se o estadual com o comunismo burocrático. Não pode
confundir-se o político com o intervencionismo do aparelho de poder. No
social, no económico e no individual. Tanto temo o estadualismo doméstico
como o estadualismo dito da Europa.
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Posted by J. A. to
Pela Santa Liberdade!
at 6/8/2003 08:05:25 PM