Segunda-feira, Junho 09, 2003

10 de Junho: Portugal como nação
Somos talvez a mais antiga nacionalidade permanecente da Europa. Pelo menos, a nível da Europa ocidental, constituímos a única entidade estadual sem problemas de minorias nacionais.

Até somos a única nação que inventou o seu próprio nome.

Nestes termos, o realizado programa do nacionalismo português, que gerou uma nação antes de haver nacionalismo propriamente dito, assentou em bases radicalmente diferentes dos projectos de nacionalismos que ainda estão marcados pela ebulição do separatismo, do expansionismo ou do imperialismo

Porque somos um pequeno Estado, acreditamos no small is beautiful e temos, naturalmente, como aliados, todos aqueles povos das pátrias sem Estado que constituem grande parte das populações da Europa que vai do Atlântico aos Urais.

Somos nacionalistas das Nações-Estados e não dos Estados que querem construir nações. Assim, nada temos a ver com os ditos nacionalismos daqueles Estados europeus, restos de impérios continentais frustrados, que construíram aquilo que designam como nação a partir do aparelho de Estado.

O nacionalismo português na actual balança da Europa tem, pois, de sentir-se como peixe na água no universo do modelo supra-estatal da União Europeia, que mais não faz do que os sistemas da medieval Res Publica Christiana.

O modelo de nação-Estado chamado Portugal já existia antes de Maquiavel baptizar o Stato e de Jean Bodin teorizar a souverainité. O mapa de Portugal já estava feito antes da Paz de Vestefália e a última guerra que tivemos com um vizinho territorial foi há cerca de duzentos anos.

Talvez tenhamos a receita que vai constituir um modelo revolucionário no presente século: mais do que o regionalismo das nações frustradas, a conciliação dos grandes espaços com os princípios da autodeterminação nacional

O nacionalismo português, depois de encerrado o ciclo do Império e perante o desafio da projecto europeu, tem, assim, todas as condições para se regenerar, sem estar dependente da "razão de Estado". Somos cada vez mais uma nação cultural e cada vez menos uma nação política.

O homem não é apenas um animal político e social. É também um animal simbólico, porque a imaginação, ao lado da razão e da vontade, é também uma das potências da alma.

Bem gostaríamos que, muito simbolicamente, pudessemos elevar a formal lei fundamental Os Lusíadas, revistos e acrescentados pela Mensagem, para que os poetas-profetas da nossa alma atlântica acendessem a temperatura espiritual de um Portugal por cumprir. Porque esse sonho de Portugal está acima de qualquer ideologia a que os portugueses adiram, mesmo que seja a ideologia nacionalista

Continuo a considerar válido o conceito estratégico dos descobrimentos, essa mistura de pragmatismo e aventura, de empirismo e de sonho, onde havia lugar tanto para o ócio dos filósofos como para o negócio dos mercadores e onde a intuição sempre preponderou sobre o planeamentismo. Aquela dose de empirismo franciscano e de organização jesuítica que nos fez dar novos mundos ao mundo, ou melhor, europeizar o mundo.
 

posted by J. A. | 11:10 PM