O ensaio Sobre a Estratégia Cultural Portuguesa termina da seguinte maneira:

 

Há sempre vários ciclos de convergência no sentido da unidade do género humano, várias ondas de repúblicas sucessivamente maiores, a caminho da república Universal. Ora, é essa procura da globalidade que exige a Portugal a plena participação numa pluralidade de alternativas, como é timbre do nosso abraço armilar que deu novos mundos aos mundos.

 

Aprofundemos a nossa participação europeia, exigindo a realização da concepção portuguesa de Europa. Reforcemos a nossa participação na NATO, reclamando um Atlântico a caminho do Sul. Reafirmemos a nossa fé nos valores permanentes da res publica christiana ou nessa sua variante do humanitarismo iluminista a que se chamou projecto da paz perpétua, essa sociedade da nações, em que cada Estado, mesmo o mais pequeno, pudesse esperar a sua segurança e os seus direitos, não do seu próprio poder ou do seu próprio juízo jurídico, mas apenas dessa grande sociedade de nações, duma força unida e da decisão da vontade comum, fundamentada em leis, segundo as palavras de Kant. Confirmemos por essa via a nossa pertença a uma aliança peninsular. Tenhamos essa alma não pequena que é a alma atlântica que foi nosso caminho para circum-navegarmos o mundo.

 

Ora, a única via que nos permite navegar de Norte para Sul e viajar do Ocidente para o Oriente, através da nossa especial maneira de ser Sudoeste, passa, sobretudo, pela crença numa Comunidade Lusíada, a única maneira de sermos fiéis à esfera armilar que faz parte do nosso escudo nacional e de podermos continuar o projecto do Quinto Império, onde ao contrário do que sucede com o messianismo euro-asiático da Terceira Roma, não pode haver imperadores, a não ser as criancinhas. É essa a nossa função histórica, o nosso ofício universal, e é também nesse poder cultural que reside o essencial do nosso poder funcional.

 

Porque a humanidade é feita muitas humanidades, de muitas nações, de muitas pátrias, de muitos homens, de muitas procuras do todo pela exigência das particularidades pátrias do direito à diferença. Como proclamava Jaime Cortesão, quanto mais buscamos as raízes do Português, mais na essência do nacional descobrimos o Universal.

 

Fomos nós os iniciadores deste novo ciclo planetário que transformou a antiga concepção ptolomaica do universo, ainda mediterrânicocêntrica, numa Terra inteira como planeta unidimensional. Assim, ai da Europa se considerar que não valeram a pena este cinco séculos de europeização do mundo. E ai de Portugal que se envergonhe da respectiva alma atlântica, que queira renunciar à esfera armilar ou que deixe de se identificar com os seus heróis do mar.

 

A viagem que durante cinco séculos encetámos pelos mares, além do mar e, depois, como bandeirantes, através das selvas e dos sertões, tornou-nos cidadãos de um mundo que engravidámos, cidadãos da terra unidimensional e vagabundos de um sonho universal. Descobrimos, pelo menos, que em todo o mundo podemos semear terra portuguesa e que em todos os tempos podemos almejar o Quinto Império. Basta tão só que não percamos o pragmatismo da aventura e o realismo do sonho. O que levou e ainda continua a levar os homens aos Descobrimentos é essa ideia eterna de que é o Homem que faz a História e não a História que faz o Homem.