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O fim da canalhocracia, inauguração do caminho-de-ferro e do telégrafo e primeiro governo histórico
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A quimera liberal –
Excêntrico, sem ambições, voltou aos seus estudos... como não chegara a
governar, como não vira desmanchar-se-lhe nas mãos a sua quimera liberal, ficou
pensando que a liberdade é excelente, apenas detestáveis os seus sacerdotes
(Oliveira Martins, sobre Alexandre Herculano).
As duas opiniões do partido progressista
– O partido progressista dividiu-se
em duas opiniões, uma sustentando o governo, a outra guerreando-o; mas tanto uns
como outros procedem leal e sinceramente: os que estamos ministeriais, creio que
não temos sustentado mal o governo; e os que fazem oposição são tão cavalheiros,
tão generosos como o meu amigo (Passos). Isto quer dizer que o partido
progressista é hábil para governar e para fazer oposição...o partido
progressista é um partido apto para todas as funções da vida pública
(intervenção na Câmara dos Deputados de 11 de Fevereiro).
Saldanha contra
Costa Cabral –
Discussão na Câmara
dos Pares entre Saldanha e António Bernardo da Costa Cabral, durante três horas
(16 de Fevereiro).
Queda
do governo de Saldanha –
D. Pedro V recusa a
Saldanha uma fornada de vinte pares (Junho).
Porque seria criar uma tirania sob o aspecto exterior da legalidade. O
governo, não tendo maioria na câmara alta, invoca a necessidade de apoio para a
aprovação de um empréstimo de dezasseis mil contos negociado junto de Londres
por Fontes Pereira de Melo. E Saldanha que boiara sempre à mercê dos
acontecimentos, vai dar rótulo a muitas companhias, dado que
sonhava fortunas, dividendos, riqueza para toda a sua família de pedintes
(Oliveira Martins). O rei reflecte, considerando que a ocasião oferecia uma
grande oportunidade para mostrar ao país que eu não tinha medo de ninguém.
Rei prefere a gente antiga –
O temperamento melancólico e pessimista do novo rei
preferia esta gente antiga (de Loulé,
seu tio-avô) aos regeneradores modernos e moços, cujo materialismo não
agradava à metafísica régia (Oliveira Martins). O rei tenta, no entanto, que
formem governo Lavradio, Joaquim António de Aguiar, Passos Manuel, Passos José e
o visconde da Luz (Velez Barreiros).
Governo nº
23 de Loulé (1014 dias, durante
quase três anos, desde 6 de Junho). O primeiro governo dito histórico, mas antes
do partido se estruturar e sob a presidência de alguém que era independente e
que não fazia parte das sementes organizacionais do partido, reunindo gente das
duas facções do chamado partido progressista. O começo da alternância, com a
oposição a cinco anos de um situacionismo, marcado por Rodrigo da Fonseca e
Fontes Pereira de Melo. Assume o poder um grupo de dez personalidades, incluindo
dois antigos militantes do cabralismo, a partir de 1857, que se identifica em
torno de um programa político, mas que vai ser abalado pela questão clerical,
pelo conflito com a França, por causa do apresamento da barca Charles et
George e pela crise sanitária da difteria.
O presidente, D. Nuno José Severo de Mendonça de
Moura Barreto (1804-1875), 2º marquês e 1º duque de (desde 1862) Loulé, bem como
9º conde de Vale dos Reis, começa por acumular apenas os estrangeiros; logo em
25 de Junho de 1856 passa a acumular as obras públicas, até 14 de Março de 1857;
desde esta data acumulou os estrangeiros e o reino. José Jorge Loureiro na
guerra e na fazenda (até 23 de Janeiro de 1857). Júlio Gomes da Silva Sanches no
reino, mas por ausência deste, a pasta é interinamente assumida por Loulé até 25
de Junho de 1856. Elias da Cunha Pessoa nos negócios eclesiásticos e justiça
(até 14 de Março de 1857). É juiz da Relação de Lisboa. Sá da Bandeira na
marinha e ultramar e nas obras públicas (até 25 de Junho de 1856). Sá da
Bandeira é sempre ministro da marinha, mas acumula as obras públicas até 25 de
Junho de 1856 e a guerra desde 23 de Janeiro de 1857. Silva Sanches começa no
reino, acumula com a fazenda, desde 23 de Janeiro de 1857, e fica apenas na
fazenda desde 14 de Março de 1857. Em 25 de Junho de 1856: Sá da Bandeira cede
as obras públicas a Loulé (até 14 de Março de 1857). Júlio Gomes da Silva
Sanches assume efectivamente a pasta do reino (até 14 de Março de 1857)
Partido (Progressista) Histórico – Reúne em
4 de Agosto uma assembleia do partido progressista histórico, para discussão do
projecto de manifesto eleitoral. A presidência cabe a Francisco António de
Campos, tendo como vices o conde de Rio Maior, Faustino da Gama, Joaquim Filipe
Soure, Ferreira Pestana, Velez Caldeira e o visconde de Fonte de Arcada. Na
comissão de redacção do manifesto, Alexandre Herculano, António Cabral de Sá
Nogueira, Basílio Teixeira de Queirós, Alberto Carlos Cerqueira de Faria e Velez
Caldeira. Há uma comissão eleitoral permanente: Sá Nogueira, Anselmo Braamcamp,
Holtreman, Manuel de Jesus Coelho e Serpa Pimentel. O manifesto é emitido a 5 de
Setembro. Em 26 de Outubro fazem umas primárias em Lisboa, no sentido da escolha
dos respectivos candidatos a deputados, participando cerca de mil pessoas.
Partido (Progressista) Regenerador – Pelos
anteriores governamentais, alinha José Luciano de Castro, com o apoio do jornal
A Revolução de Setembro, com José Estêvão, Rodrigues Sampaio, Casal
Ribeiro, Joaquim António de Aguiar e Alberto António Morais de Carvalho. A
reunião constitutiva do grupo que há-de corporizar-se no partido regenerador,
mas que ainda se diz Partido Progressista, tem lugar em 14 de Setembro, no
Teatro de S. Carlos, em Lisboa.
Partido cartista – Em 27 de Agosto, o
partido cabralista apresenta a sua comissão eleitoral de Lisboa, com António
José de Ávila, marquês de Fronteira, marquês de Valada, José Marcelino de Sá
Vargas e Correia Caldeira. Tem o apoio do jornal Imprensa e Lei. No dia 3
de Setembro emitem o respectivo manifesto eleitoral. Em 2 de Outubro surge o
centro eleitoral do Porto.
Partido legitimista – Miguelistas reúnem em
18 de Agosto no palácio dos viscondes de Manique em Lisboa. Decidem ir às urnas.
Têm o apoio do jornal A Nação e são suportados pela Ordem de S. Miguel da
Ala.
Bancos, telégrafo, escravos e caminhos-de-ferro
– Carta de lei autoriza a criação do Banco Mercantil. Estão apenas em
funcionamento o Banco de Portugal em Lisboa e o Banco Comercial do Porto (16 de
Junho). Começa a funcionar uma linha telegráfica entre Lisboa e o Porto (18 de
Julho). Liberdade para os filhos dos escravos nascidos no ultramar, depois de
atingirem os 20 anos (24 de Julho). Tem lugar a inauguração solene do
caminho-de-ferro entre Lisboa (Santa Apolónia) e o Carregado, com o
cardeal-patriarca de Lisboa a abençoar as carruagens (28 de Outubro).
Epidemias – Surge a epidemia de febre
amarela (Agosto). Já a de cólera instala-se e difunde-se. De Outubro de 1855 a
Novembro de 1856, só em Lisboa, há 3 275 mortos.
Revolta das subsistências, por causa do mau
ano agrícola (no Outono de 1855, grandes chuvadas e cheias). Manifestação em
Lisboa contra a alta do custo de vida, numa das primeiras revoltas dos
abastecimentos. Tumultos e assaltos a lojas. Autorizadas importações de géneros
alimentícios (8 de Agosto).
Eleição nº 14 (9 de Novembro). Vencem os
governamentais, ditos progressistas históricos, em torno de uma Comissão
Eleitoral Progressista, com 62 deputados (72%).
Emitido o manifesto da comissão eleitoral
progressista de Lisboa (5 de Setembro). Já antes, em 3 de Julho, O
Portuguez anunciara que o partido progressista lançaria em breve o
respectivo programa, contrariamente do que fazia o grupo de Rodrigo e Fontes,
que nunca tivera um programa formal.
Oposição de elementos do anterior situacionismo,
ditos progressistas regeneradores, 41 deputados (25%).
5 deputados miguelistas que não chegam a prestar
juramento de fidelidade (António Pereira da Cunha, por Viana, José Magalhães
Vilas Boas e Dionísio José Barroso, por Barcelos, Francisco Hilário Brito, por
Braga, e Francisco Manuel de Vasconcelos, por Torres Vedras.
Visconde de Santarém – Este estimável
cavalheiro, que tanto tem honrado o nosso país com as suas publicações que o
tornaram notável entre os sábios da Europa (observação de Lavradio sobre o
inimigo político, o 2º Visconde de Santarém, teórico miguelista falecido em
1856).