1981 |
A procura de novos paradigmas. |
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Cosmopolis |
© José Adelino Maltez, História do Presente, 2006 |
Da eleição de Mitterrand ao antes vermelhos que mortos
Quando a Grécia se torna membro de pleno direito das Comunidades Europeias, dá-se uma viragem à esquerda em França, com a eleição de François Mitterrand para a presidência (10 de Maio), derrotando Valéry Giscard d’Estaing, e surge um novo governo, presidido por Pierre Mauroy (23 de Junho), com ministros comunistas, depois da vitória da esquerda nas eleições parlamentares (21 de Junho). Mas o governo do programa comum de esquerda não assumirá o perfil da frente popular dos anos trinta. Em Espanha, destaca-se o golpe de Tejero de Molina em Espanha (23 de Fevereiro), enquanto uma vaga pacifista, aos gritos de antes vermelhos que mortos, assola a Europa ocidental (24 e 25 de Outubro) e é, pela primeira vez, identificado o vírus da SIDA.
O regresso ao regelo Leste/Oeste e comunistas no governo de Paris
Quando a Grécia se torna membro de pleno direito das Comunidades Europeias, dá-se uma viragem à esquerda em França, com a eleição de François Mitterrand para a presidência (10 de Maio), derrotando Valéry Giscard d’Estaing, e surge um novo governo, presidido por Pierre Mauroy (23 de Junho), com ministros comunistas, depois da vitória da esquerda nas eleições parlamentares (21 de Junho).
Mas o governo do programa comum de esquerda não assumirá o perfil da frente popular dos anos trinta.
Em Espanha, destaca-se o golpe de Tejero de Molina em Espanha (23 de Fevereiro), enquanto uma vaga pacifista, aos gritos de antes vermelhos que mortos, assola a Europa ocidental (24 e 25 de Outubro) e é, pela primeira vez, identificado o vírus da SIDA.
Europa
No plano europeu, essa course sans retour (Fontaine), com Gaston Thorn, a começar as suas funções de presidente da Comissão (1981-1985), assinale-se a apresentação no Parlamento Europeu de um projecto de Acto Europeu, conforme o chamado documento Gensher-Colombo (18 de Novembro), de iniciativa germano-italiana.
O projecto, sem contonos jurídicos, pretendia apenas manifestar uma vontade política, consagrando o princípio da cooperação intergovernamental e o direito de veto, mas surgem significativas divergências que vão durar cerca de ano e meio.
A viragem à esquerda em França
Aliás em vários paises da Europa, as viragens políticas tanto à esquerda como à direita, eram aproveitadas para se lançarem dúvidas sobre o processo de integração europeia.
Em1981, em França, a eleição de Mitterrand e o consequente novo governo de Pierre Mauroy levam a uma esboço de inflexão da política europeia. Com efeito, os socialistas que na campanha contra Giscard, haviam proclamado a Europa dos trabalhadores contra a do grande capital, bem como um espaço social europeu, chegam a reclamar contra a supranacionalidade, invocando a necessidade do regresso ao direito de veto. O próprio Mitterrand acusara o antecessor de praticar uma política importada da Alemanha e da circunstância do mesmo privilegiar o diálogo directo com Bona.
Esta turbulência entre a França socialista e a RFA governada por uma coligação SPD-FDP, sob a presidência de Helmut Schmidt e com Gensher nos negócios estrangeiros, vai terminar logo em1982, com a subida ao poder em Bona de Helmut Kohl e a instituição de uma coligação CDU/CSU-FDP.
O eixo franco-alemão
Entretanto, Bona ensaiara uma aproximação com a Itália, sendo significativa a iniciativa Gensher-Colombo, de Novembro de 1981, visando um Acto Europeu, destinado a reforçar a cooperação política, numa altura em que a França apresenta, de forma dissonante, um memorando visando a constituição de um espaço social europeu.
E Mitterrand logo retoma, face a Kohl, a atitude, anteriormente ensaida por De Gaulle com Adenauer. É curioso verificarmos que as coincidências estruturais entre Paris e Bona têm, desde sempre, ultrapassado as querelas conjunturais dos programas de governo e dos sinais ideológicos das maiorias que os sustentam.
Em 18 de Novembro de 1981, a RFA e a Itália, através dos seus ministros dos estrangeiros, Genscher e Colombo, apresentam aos seus parceiros uma iniciativa de Acto Europeu que não era um projecto de tratado nem um diploma jurídico, mas a manifestação de uma vontade política.
O plano, contudo, além de receber fortes oposições de outros parceiros, também não colhe os aplausos do Parlamento europeu que critica o facto do mesmo consagrar a cooperação intergovernamental e o direito de veto
Espanha
Em Espanha, o golpe do 23 de Fevereiro, depois de Adolfo Suárez ter apresentado a demissão em finais de Janeiro, manifestou-se tanto na acção espectacular de Tejero de Molina em plenas Cortes, como na declaração de estado de sítio do general Milans del Bosch, a partir da praça de Valência. A democracia passa essa prova difícil, graças á acção do rei Juan Carlos que consegue manter a disciplina das forças armadas, regressando-se à normalidade institucional, com a tomada de posse de um novo governo presidido por Leopoldo Calvo Sotelo (25 de Fevereiro).
Europa Central e do Leste
As relações entre o Leste e o Oeste entravam no regelo, com Brejnev a proclamar que já se estava na guerra fresca e Washington a reconhecer uma nova guerra fria. De facto, são detidas cerca de 100 000 pessoas, incluindo o próprio Walesa.
A questão polaca é marcante. Depois de João Paulo II receber Lech Walesa no Vaticano (15 de Janeiro), o General Jaruzelski é nomeado primeiro-ministro da Polónia (9 de Fevereiro) antes de se tornar secretário-geral do partido único (18 de Outubro), apesar de reconhecer o Solidariedade Rural (17 de Abril).
As contradições vão exacerbar-se no final do ano, muito especialmente depois de Moscovo determinar que os dirigentes polacos tomasse medidas radicais e enérgicas (17 de Setembro).
A pedido da Igreja Católica, o sindicato Solidariedade aceita não recorrer à greve durante três meses (4 de Novembro), mas Jaruzelski proclama o estado de sítio, fechando as fronteiras, detendo os dirigentes do Solidariedade e instituindo um WRON, Conselho Militar de Salvação Nacional (13 de Dezembro).
Norte de África
No Egipto militares afectos aos fundamentalistas islâmicos assassinam o presidente Sadat, em plena parada militar (6 de Outubro). Sucedeu-lhe o vice-presidente Hosni Mubarak (14 de Outubro) que, na essência manteve o estilo anterior, nomeadamente na abertura económica, concedendo inúmeras facilidades às empresas estrangeiras, embora, na retórica, parecesse exprimir uma maior aproximação aos irmãos árabes.
Na Tunísia, Bourguiba autoriza a existência de outros partidos, para além do Neo-Destour, rebaptizado como Partido Socialista Destouriano, partido único desde 1956.
Mensário
Janeiro
Papa recebe Walesa
Fevereiro
O 23-F em Espanha ou a resistência do rei pela democracia
Março
Falha atentado contra Reagan
Abril
O Solidariedade consegue o reconhecimento
Maio
Entre a reeleição de Mitterrand e o atentado contra o
Papa
Junho
Reforço de Deng, bomba de neutrões e governo da união de
esquerda em França
Julho
Carlos e Diana ou o que parecia e não foi
Agosto
Sul-africanos invadem Angola
Setembro
Abolida a pena de morte na pátria da guilhotina
Outubro
Vaga pacifista no Ocidente e assassinato de Sadat
Novembro
Solidariedade suspende greves e plano Genscher-Colombo
Dezembro
Cuellar na ONU e estado de sítio na Polónia
Governos de Balsemão e Soares retomando o controlo do PS
Da eleição de Mitterrand ao antes vermelhos que mortos
ä Grécia adere à CEE ä
Ministros comunistas no governo francês de Pierre Mauroy
ä Atentado contra o papa em Roma
ä Golpe de Tejero de Molina em Madrd
ä Vaga pacifista na RDA
ä Estado de sítio na Polónia
Crise do Estado Providência e fim da era ideológica
¤ g 116º Balsemão
¤ 117º Balsemão
© José Adelino Maltez. Cópias autorizadas, desde que indicada a origem. Última revisão em: