Cabral, José Bernardo da Silva (1801-1869)

 Conde de Cabral em 24 de Outubro de 1867. Irmão de António Bernardo da Costa Cabral.

 Advogado. Deputado em 1840-1842, 1845, 1846, 1848-1851 e 1860-1861. Par do reino de 1864-1867. Governador civil do Porto (1843) e Lisboa (1844).

 O chamado zé dos cónegos. Ministro da justiça de 3 de Maio a 24 de Julho de 1845 e de 24 de Julho a 30 de Maio de 1846. Ministro do reino de 21 de Abril a 20 de Maio de 1846. Nomeado lugar-tenente da rainha para reprimir a revolta de 1846.

 Depois de breve exílio, regressa a Lisboa logo em 17 de Abril de 1847 e, em fins de Maio já institui o Centro Eleitoral Cartista do Reino e Ilhas onde, formalmente, eleva o irmão a presidente. Em 2 de Agosto começa a emitir o jornal o Estandarte, desta forma institucionalizando a chamada parte exaltada do partido cartista.

 Entra em ruptura com António Bernardo em 1848. Assume-se, então, como defensor do cartismo puro contra o governo débil, e António Bernardo da Costa Cabral, surgindo, da facção deste último o jornal A União, dirigido por José Maria Correia Lacerda (3 de Janeiro). Segue-se, em 14 de Abril, novo órgão do Conde de Tomar, O Popular, e em princípios de Maio já António Bernardo abandona o Centro Eleitoral Cartista e constitui um Centro Director, onde é figura proeminente João Rebelo da Costa Cabral. Costa Cabral aproxima-se crescentemente do governo de Saldanha, invocando os graves e extraordinários acontecimentos da Europa. Saldanha reintegra José Bernardo e António Bernardo no Conselho de Estado, mas não cede ao chamado princípio reparador, reclamado pelos estandartistas, isto é, à reintegração dos empregados públicos afastados pelo governo de Palmela (vg. duas centenas de escrivães, cerca de sete dezenas de delegados do Ministério Público e outros tantos juízes). Os exaltados do cabralismo querem matar no ovo as conspirações e defendem a mão de ferro contra a chamada mão de veludo dos defensores da fusão pasteleira. Mas em meados de 1848, Silva Cabral apenas pode contar com 36 deputados indefectíveis, dado que os outros se rendem aos proclamados propósitos de pacificação e conciliação, representados pela aliança de Costa Cabral com Saldanha. Saldanha, em aliança com Costa Cabral, comunica à Câmara dos Deputados, em Junho, que pretende esmagar com mão de ferro a hidra revolucionária, sem necessidade de qualquer tipo de repressão sangrenta. Os jornais da oposição patuleia, como a Revolução de Setembro e O Patriota e chegam a aliar-se em críticas com o Estandarte de José Bernardo da Silva Cabral, os extremos dos jacobinos e dos despeitados que assim se tocam.

 Em 1849 cresce a oposição de José Bernardo da Silva Cabral ao irmão, principalmente no jornal O Estandarte. A oposição progressista compara o dissídio às lutas de Caim contra Abel. O jornal de António Bernardo, A Lei, zurze nos adeptos de José Bernardo, falando num pacto monstruoso e numa aliança tácita com o Partido Nacional.

 Em 30 de Novembro de 1850, foi eleito grão-mestre do Grande Oriente Lusitano. Está então em ruptura com os irmãos de sangue António Bernardo e João Rebelo. Passa a contar como colaboradores Agostinho Albano da Silveira Pinto, João Lourenço da Cruz, João Paulino Vieira e o cónego Euletério Francisco de Castelo Branco. Se a usurpação de Julho de 1849 dará origem à dissidência do GOP, a eleição de José Bernardo dará origem à nova dissidência em 1851, o GCCML.

 Nos começos de 1851, o sistema de apoio ao situacionismo cinde-se em três alas ditas cartistas: os puros, que seguem António Bernardo, no jornal A Lei. Os chamados ultras, adeptos de José Bernardo, tendo como órgão O Estandarte e os chamados centristas, que começam a reunir-se em torno de Saldanha e de Rodrigo da Fonseca, enquanto se estrutura uma oposição dita nacional e progressista, que reúne gente moderada, como Joaquim António de Aguiar, e antigos radicais, como Leonel Tavares de Cabral, ficando Loulé com o centro.

 A partir de 26 de Junho de 1851, o grupo de José Bernardo da Silva Cabral, com Monteiro e José Lourenço da Luz, através do jornal O Estandarte, passam de apoiantes dos chamados regeneradores a activos oposicionistas. Têm várias reuniões em casa do duque da Terceira, mobilizando Fronteira e António José de Ávila. Terceira considera que Lavradio e Rodrigo da Fonseca são o setembrismo personificado. Entre os deputados cartistas eleitos, António José de Ávila, Correia Caldeira, Lopes de Vasconcelos, Lobo de Moura, António da Cunha Sottomayor, Mendes Leal e Parati. Vários pares oposicionistas como Terceira, Algés e Granja. 

 Na Primavera de 1857, José Bernardo da Silva Cabral regressa à política activa, com o lançamento do jornal Rei e Ordem.

 

 Em Abril de 1858, anuncia-se a criação de uma frente ampla oposicionista, com os cabralistas, do partido cartista, onde António Bernardo e José Bernardo se reconciliam, a aparecerem em coligação com o partido regenerador e o partido legitimista. Dá-se imediata cisão dos cabralistas, com a saída de António José de Ávila e José da Silva Mendes Leal.

 

 Em 1860, em plena CD, considera: Hoje tudo mudou em volta de nós; mudaram as questões, o modo de as tratar, os interesses públicos, a face parlamentar, a opinião do país; e mudou tudo tanto que a liberdade é já para nós um costume e o fomento uma necessidade

 Par do reino desde 23 de Fevereiro de 1864. Morre em 25 de Março de 1869.

 

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© José Adelino Maltez. Cópias autorizadas, desde que indicada a origem. Última revisão em: 27-04-2007  

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