NO PRINCÍPIO ERA O MAR

ESTAR AQUI

Estar aqui
As palavras proibidas
No silêncio de quem sou
Os arados do poema
O poema é sempre grito por dar
Não sei nada, destroçado
Rosa livre, rosa breve
Para quê cantar de novo
Se não existisse Alberto Caeiro
Chamar deus ao que me cerca
Na praia de madrugada
Nesta incerta descoberta
Um navio de vento vai voando
No cais das despedidas
Vou ao fundo das horas
Hoje apetece poesia
O deus instante
Meu amor é procurar-te
Não vale a pena
Porque pensei paz
As horas podem ser duras
Este caminho teia de aranha
Dia a dia nove luas

AMOR AUSENTE

Depois do amor
Teu corpo sabendo a sal
Se tuas mãos nas minhas
Com palavras de um lirismo português
Este beira mar que somos
Vem
Ir de porto em porto
As tuas mãos de bonança
Estas mãos
Ir para lá do cabo que proibe
Quanto mais longe
Vou de partida
Amor português
Morna
Leve tua pele
Na madrugada breve
O poema é embrião
Pela noite companheira
Teu corpo aberto à noite
Saudar a noite misteriosa
Delirando amor
Dois corpos livres de algemas
Meu corpo teu corpo
Duas réstias de luar
Ir mais além
As palavras portuguesas

O SILÊNCIO E A REVOLTA

Quantos ficaram para sempre
Uns aos outros nos acusamos
Partir de novo
Alcácer quibir ainda nos mata
Neste quarto degredo
Amanhã
Aventurar-me na poesia
Sobreviver
Descobrir meu país desconhecido
Perder-me na terra da manhã
Sobre os medos do passado
Madrugada a madrugada
Este pensar no céu
Onde está meu país?
Poesia pode rimar com mar
Entre saudade e regresso
Um pouco de nós morreu contigo
Ondas brandas da bonança
Das praias ociedentais
Sentado nas areias
Alguns morreram afogados
Vento soão
Vou-me embora
A palavra liberdade
Não ficaram nas crónicas