| || | Governos | || | Grupos | || | Eleições | || | Regimes | || | Anuário | || | Classe Política |
|
|
1918
|
O sidonismo: a República Nova com um Presidente-Rei
|
|
|
Governo nº 68 Sidónio Pais (11 de Dezembro de 1917)
|
Governo nº 69 Tamagnini Barbosa (35 dias) Canto e Castro, presidente da república
|
|
Governo nº 68 de Sidónio Pais
(11 de Dezembro de 1917, 376 dias). A maioria do governo é de civis. Os membros
constantes do gabinete são os antigos centristas José Alfredo Mendes Magalhães
(1870-1957), médico no Porto e governador de Moçambique em 1911-1913, e João
Tamagnini de Sousa Barbosa (1883-1948), ex-camachista.
Numa primeira fase, aparecem três
unionistas: Alberto de Moura Pinto (1883-1960), na justiça, António dos Santos
Viegas, António Aresta Branco, bem como António Maria de Azevedo Machado Santos,
José Feliciano da Costa Júnior e Francisco Xavier Esteves.
Em
7 Março os ministros unionistas abandonam o governo, mas um grupo significativo
de unionistas sai também do partido em sinal de apoio a Sidónio que toma posse
da presidência na Câmara Municipal de Lisboa, em 13 de Maio. Entre os novos
ministros: Forbes Bessa, cadete da Escola de Guerra e estudante do Instituto
Superior Técnico, Martinho Nobre de Melo
(1891-1985), o primeiro dos ministros da República que se disse não republicano,
Manuel José Pinto Osório, José Carlos da Maia (1878-1921) e Eduardo Fernandes de
Oliveira (1882-1943), dirigente da Associação Central da Agricultura Portuguesa.
Em 15 de Maio, os ministros passam a
secretários de Estado e as novidades são os nomes de Alberto Osório de Castro,
Amílcar de Castro Abreu Mota, Joaquim do Espírito Santo Lima, Joaquim Mendes do
Amaral (1889-1961) Alexandre José Botelho de Vasconcelos e Sá.
Machado Santos sai do governo em 9 de
Junho.
Tamagnini perde as prerrogativas de
principal figura do governo em 8 de Outubro, sendo reforçada a ala de Egas
Moniz. Nesta data, nova alteração profunda, com a entrada de António Bernardino
de Sousa Ferreira, Jorge Couceiro da Costa, Álvaro César de Mendonça, João de
Canto e Castro Silva Antunes, António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz, José
Alberto Pereira de Azevedo Neves (n. 1877) e José João Pinto da Cruz Azevedo
(1888-1964) nos abastecimentos (amigo pessoal de Sidónio).
Uma manta de retalhos – Porque
os partidos se haviam esfacelado em 1917, eis que Sidónio pode
recolher as maravilhas de todos eles, e fazer a manta de retalhos com que se
cobriu. O novo governo é apenas a República de 1910 livre dos
democráticos (Rui Ramos).
Um meteorio brilhante. O sidonismo foi uma segunda reacção contra a
permanente demagogia democrática que nos levara para a guerra... e
Sidónio foi como um meteoro brilhante que atravessasse de repente o céu
carregado da vida pública portuguesa e cujo rasto luminoso ao cabo de um ano se
apagou (Luís Cabral de Moncada).
Revoltas e turbulências –
Revolta dos marinheiros no quartel de Alcântara no dia 8
de Janeiro. Sidónio, na parada da vitória, terá humilhado os marinheiros, quando
os fez desfilar desarmados. No dia 9, o rebelde Vasco da Gama circula no
Tejo e o presidente do ministério assume directamente a defesa da situação
comandando a artilharia do Castelo de S. Jorge que atinge o navio e o faz
render.
Dissolução dos centros políticos.
No mesmo dia determina-se que os governos civis
dissolvam todos os centros políticos que na actual conjuntura tenham
exorbitado dos seus fins legais, concorrendo para a perturbação da ordem (9
de Janeiro). Dissolução dos corpos administrativos (10 de Janeiro). Greve da
Companhia de Gás e Electricidade (21 de Fevereiro).
Tentativa de golpe no Porto
(4 de Maio). Sidónio desloca-se à cidade nos dia 17 e
18, libertando pessoalmente os presos políticos que tinham sofrido maus tratos.
Não recebe o apoio dos partidários da república velha, com críticas do
Mundo e de A Luta, mas também não tem aplausos de monárquicos, com
críticas de O Dia.
Sindicalistas contra o sidonismo –
Nada de razoável podem nem devem esperar as classes trabalhadoras de mais
esta nova (?) situação política que o operariado acolheu com benévola
expectativa (Conselho central da União Operária Nacional)
Relações com a Igreja – No
plano da política doméstica, o dezembrismo tenta resolver o conflito entre o
Estado e a Igreja Católica. Aliás, a primeira medida tomada pelo novo regime é a
anulação dos castigos impostos aos bispos, em 9 de Dezembro de 1917. Segue-se o
reatamento das relações com a Santa Sé (27 de Junho de 1918).
Revisão da Lei da Separação –
Discurso de Brito Camacho em Braga, acusando a Lei da Separação de não ser uma
lei para a defesa do Estado, mas antes para agravo da Igreja
(10 de Fevereiro). Decreto de 22 de Fevereiro do ministro da justiça, o
unionista Moura Pinto, com um relatório que terá sido redigido por Brito
Camacho, até porque algumas das intenções aí referidas acabam por não constar do
articulado. Eis algumas das mudanças do novo modelo: supressão do beneplácito;
devolução dos seminários confiscados desde 1911; possibilidade de as cerimónias
de culto passarem a realizar-se a qualquer hora sem prévia autorização; as
associações cultuais podem dedicar-se a outras actividades, para além das de
assistência e beneficência. Segue-se o decreto de 9 de Julho restabelece a
embaixada portuguesa junto da Santa Sé, que havia sido extinta em 10 de Julho de
1913 (9 de Julho).
A Guerra – Durante o sidonismo
ocorrem alguns dos picos dramáticos da nossa participação bélica, desde a
derrota na batalha de La Lys ao torpedeamento da Augusto Castilho (14 de
Outubro), um pouco antes de ser assinado o armistício (11 de Novembro).
Infelizmente, os dolorosos
investimentos humanos da nossa participação na Flandres são prejudicados pela
imagem germanófila com que os adversários marcam o grupo de Sidónio, o
que prejudica a nossa participação na conferência de paz.
Saliente-se que, depois de, em 21 de
Março, os alemães iniciarem uma ofensiva, os ingleses recuam cerca de 60 km,
mandando o CEP para a frente. Assim, na batalha de La Lys, de 9 de Abril, morrem
7 098 praças e 327 oficiais, cerca de 35% dos nossos efectivos na Flandres.
A partir de então, há sucessivas
recusas de participação na frente e os nossos soldado, assim humilhados, servem
de mão de obra para abertura de trincheiras, ao serviço dos britânicos.
Tamagnini pede aos britânicos que substituam as posições de toda a 1ª divisão
portuguesa, face à insubordinação de várias brigadas desta, que se recusam a ir
para a frente.
Submarino alemão torpedeia a
Augusto Castilho comandada por Carvalho Araújo (14 de Outubro).
A assinatura do Armistício que põe fim
à Grande Guerra dá-se em 11 de Novembro. Entre os portugueses, dos 56 493 homens
que partiram para a Flandres, há 2 091 mortos, 12 508 feridos e incapazes e 6
678 prisioneiros. Em Moçambique 4 723 mortos, 5 467 desaparecidos e 1 248
feridos. Em Angola, 810 mortos.
O ensino – António de Oliveira
Salazar é nomeado professor ordinário da Faculdade de Direito de Coimbra, com
dispensa de prestação de provas (19 de Abril). Depois, por concessão graciosa do
Conselho Escolar, obtém o grau de doutor em Direito, sem ter feito o
concurso de doutoramento. Invoca-se a Lei nº 616, de 19 de Junho de 1916, que
confere o grau de doutor, por via decretina, aos professores ordinários e
extraordinários com três anos de serviço (10 de Maio). São também abrangidos
Paulo Merêa e Carneiro Pacheco, mas Salazar passa à frente de dois professores
mais antigos, como Fezas Vital e Magalhães Colaço (1893-1931), que só recebem a
decretinice de doutor em 20 de Julho seguinte (10 de Maio).
Pelo Decreto nº 4 554, o grau de
bacharel formado é substituído pelo de licenciado. Restauram-se as
insígnias doutorais. Pode conceder-se o grau de doutor aos professores
ordinários e extraordinários que o não possuam, bem como a individualidades
eminentes, dignas dessa distinção (6 de Julho).
Conselho da Faculdade de Direito de
Lisboa vota a concessão do grau de doutor a Martinho Nobre de Melo, o último de
uma série de professores que não tinham sido sujeitos a prévias provas de
doutoramento (13 de Julho).
Decreto sobre as bases para a
organização e funcionamento das Faculdades de Direito restaura a obrigatoriedade
de doutoramento para o exercício do cargo de professor. Com a reforma de 1911
tinha-se aberto a possibilidade de acesso ao corpo docente de simples bacharéis
em direito que poderiam, depois, passar a professores extraordinários e a
professores ordinários sem prévia prestação de provas de doutoramento (14 de
Julho).
O governo é republicano!
Diga-se o que se disser, agrade a quem agradar, o governo é republicano
para acabar com os ódios que dividem a família portuguesa (Sidónio
Pais)
Leis eleitorais
Por decretos de 11 e 30 de Março, marcado pelo estilo do
ministro Martinho Nobre de Melo, o sidonismo institui o regime do sufrágio
universal, alargando o direito de voto a analfabetos e a oficiais, sargentos e
equiparados das forças armadas. O colégio eleitoral passa de 471 557 recenseados
para cerca de 900 000 e nas eleições de 28 de Abril chega a atingir-se o nível
dos 513 958 votantes.
Segundo o decreto de 11 de Março, os
não alfabetos passam a eleitores, definidos da seguinte maneira: todos os
cidadãos portugueses do sexo masculino, maiores de 21 anos, que estejam no gozo
dos seus direitos civis e políticos e residam em território nacional há mais de
seis meses.
A Câmara dos Deputados sidonista é
composta por 155 deputados eleitos por círculos, predominando o sistema da lista
incompleta, dado que cerca de um terço dos mandatos é para a representação das
minorias.
Há 77 senadores, dos quais 28
provinham de agremiações sócio-profissionais. 49 destinam-se ao eleitorado comum
e 9 ficam reservados para as minorias.
As ilusões reformistas –
Começa, na Sociedade de Geografia de Lisboa, uma série de conferências da
Liga de Acção Nacional (15 de Janeiro). António Sérgio abre a iniciativa
com O Ensino como Factor de Ressurgimento Nacional.
A questão presidencialista:
Sidónio visita o Norte a partir de 12 de Janeiro de 1918, até ao dia 17. No
Porto, nos dias 12 e 13. Em Braga, a 14. Em Guimarães e Viana do Castelo, 15.
Sidónio diz fazer estas sucessivas visitas ao país para tactear a opinião
pública, porque não se pode governar sem o apoio da opinião e não há
força alguma militar que a domine. E muitos vão dando vivas à república
nova.
Em
14 de Janeiro reconhece o apoio dos monárquicos que são pessoas honestas. Egas
Moniz, ao inaugurar a sede do Partido Centrista, propõe um regime
presidencialista (6 de Fevereiro).
Sidónio, em Évora, falando na vida
partidária, critica a rotina dos partidos e diz que um maior
haveria de formar-se (15 de Fevereiro).
Face a leituras equívocas, o mesmo
Sidónio é obrigado a emitir nota oficiosa, no dia 19, onde declara que não falou
num partido único, mas antes n’ um partido constituído por todos,
de homens de bem para servir a pátria. E que é preciso
implantar um regime novo em que monárquicos e republicanos
possam viver.
República ou monarquia?
Isto … já não é República porque lhe falta Afonso
Costa. Ainda não é monarquia porque lhe falta o rei (Alfredo Pimentaö
)
Unionistas – Em 8 de Abril de
1918, os unionistas, reunidos em congresso decidem não participar nas eleições e
passam para a oposição ao sidonismo.
Novidades – A Cruzada Nuno
Álvares Pereira é fundado em 18 de Julho de 1918.
Sidonistas – Ocorre um conflito
no seio do dezembrismo, com Egas Moniz a opor-se ao presidencialismo, defendido
por Tamagnini Barbosa, já depois de Machado Santos abandonar o governo. Em 7 de
Setembro de 1918 José Carlos da Maia sai também, sucedendo-lhe Canto e Castro.
Egas Moniz, apoiado pelo Jornal da Tarde, então dirigido por João
Henriques Pinheiro, opõe-se a que se consagre na Constituição a dissolução
parlamentar pelo Presidente da República. Considera que, no presidencialismo é
tão inadmissível essa dissolução quanto a não dissolução em parlamentarismo.
Tamagnini Barbosa, por seu lado, assume um extremado anti-parlamentarismo
defendendo a dissolução, numa ideia também partilhada por Sidónio Pais.
Eleição parlamentar nº 48 e
primeiras eleições presidenciais por sufrágio universal e directo, segundo os
decretos de 11 e 30 de Março de 1918, no dia 28 de Abril. A primeira eleição
presidencial portuguesa por sufrágio directo e universal, bem como eleição de
155 deputados e de 49 dos 77 senadores. Os democráticos, evolucionistas e
unionistas apelam à abstenção. Nas presidenciais, é eleito Sidónio Pais, o único
candidato (513 958 votantes em cerca de 900 000 eleitores, cerca de 69%). Nas
legislativas triunfa o Partido Nacional Republicano, com 108 deputados (70%). Há
também 40 deputados monárquicos (24%), 5 independentes e outros tantos
católicos, bem como um deputado socialista. Os governamentais obtêm maiorias em
todos os círculos, à excepção do de Arganil, onde triunfam os monárquicos.
Inauguração
solene do novo parlamento (22 de Julho) que logo vês os respectivos
trabalhos interrompidos de 6 de Agosto a 4 de Novembro. Tanto Machado Santos
como Cunha Lealö , nas suas primeiras intervenções
(dia 23), perguntam quem é o presidente do ministério, defendendo a
existência deste cargo, expressamente previsto na Constituição de 1911. A
maioria elege Egas Moniz para seu líder parlamentar.
Crise das subsistências. O
Século de 24 de Agosto refere a crise das subsistências como uma anarquia
mansa, criticando o regime vigente de controlo, onde há regulamentações
avulsas de governadores civis e administradores de concelhos, com preços a
variarem de terra para terra, dado o aparecimento de novos negociantes e
transportadores clandestinos de géneros alimentícios. Estabelecido o regime do
racionamento em 31 de Agosto, com rações individuais fixadas a nível de
freguesia pelo regedor e pelos professores oficiais. O regime das senhas de
consumo inicia-se em Lisboa logo em 16 de Setembro e no dia 23 do mesmo mês, no
resto do país.
Revoltas.
Tentativa de golpe em Lamego, descoberta em 28 de Setembro por Sollari Alegro.
Revoltas abortadas em Lisboa, Porto, Coimbra (coronel Alexandre Mourão e
Infantaria 35) e Évora (Estêvão Pimentel e Cavalaria 5) em 12 de Outubro. Há 95
prisões. Decretado o estado de sítio no dia 13 e, no dia seguinte, é assaltado o
jornal O Mundo. No Porto, sofre de tal sorte o Clube Democrático dos
Fenianos e a sede de A Montanha. Comité revolucionário assume o comando
da cidade de Évora em 15 de Outubro, sendo morto o comandante militar, o coronel
Pereira da Silva. No dia 16, em Lisboa, a leva da morte, com uma coluna
de 153 presos políticos a ser assaltada, na esquina da Rua Vítor Cordon, com a
rua do Ferragial. 7 mortos, entre eles, Ribeira Brava. Tinham sido presos vários
vultos do Partido Democrático, como o visconde da Ribeira Brava, Sá Cardoso,
Almeida Ribeiro, bem como vários empregados no jornal O Mundo. António
Granjo é um dos participantes nas revoltas. Proclamação dos núcleos de
oficiais, assinada pelo general Jaime Leitão de Castro, o primeiro manifesto
das juntas militares pró-monárquicas (6 de Novembro). Tentativa fracassada de
greve geral em 18 de Novembro. Governo manda ocupar militarmente as estações de
caminho-de-ferro. Greves camponesas na zona de Évora, com os cabecilhas a serem
deportados para África. Há repercussões no Algarve e em Setúbal. Em Lisboa,
apenas se manifestam os operários gráficos e parte da indústria de móveis.
Prisões de vários sindicalistas. Actos de sabotagem na greve dos
ferroviários do Sul e Sueste em 19 de Novembro.
Delegação portuguesa à Conferência de
Paz parte para Paris (5 de Dezembro). É presidida por Egas Moniz e conta
com Freire de Andrade, Espírito Santo Lucas e Santos Viegas. O ministro de
Portugal em Paris é então Bettencourt Rodrigues. Colaboram com a delegação
Álvaro Vilela, Batalha Reis e o conde de Penha Garcia.
31 785 mortos pela pneumónica
em Outubro. 18 123, em Novembro.
Tentativa de assassinato de
Sidónio por ocasião da condecoração aos sobreviventes do Augusto Castilho,
em 6 de Dezembro. Vaga de prisões. Assaltada e destruída a sede do Grande
Oriente Lusitano. Sidónio, antigo maçon, indigna-se. A tentativa cabe a um jovem
de 19 anos, Luís Maria Baptista, filho de um antigo vereador municipal do PRP de
Lisboa, merceeiro, ligado à loja maçónica Pro Pátria. Sidónio
mistura-se com a multidão durante um festival infantil que decorre no Jardim
Zoológico, no dia 8. Está prevista a detenção de Sidónio, mas é avisado a tempo.
Magnicídio no Rossio – Sidónio
Pais, Presidente da República, pela vontade do Destino, o direito da Força,
direitos maiores que o sufrágio de empréstimo que o elegeu, é assassinado às
23 horas e 55 minutos do dia 14 de Dezembro, por José Júlio da Costa, na estação
do Rossio. Tem, como últimas palavras: sei que morro! Salvem a Pátria. Como
depois vai cantar Fernando Pessoa: A vida fê-lo herói, e a Morte/O
sagrou Rei!... Flor alta do paul da grei,/Antemanhã da Redenção,/Nele uma hora
encarnou el-rei/Dom Sebastião.
Canto e Castro O governo investe-se na totalidade
do poder executivo. Decretado luto geral de 30 dias. Opta-se pelo regresso pleno
à Constituição de 1911 (16 de Dezembro). Regressa-se à designação de
ministérios, enquanto no parlamento sidonista, Canto e Castro é eleito
Presidente da Repúblicaö , com a abstenção dos
deputados monárquicos. Deputado Botelho Moniz pede a restauração da pena de
morte (16 de Dezembro). Para Cunha Leal, estava
terminada esta primeira fase de agonia do sidonismo, sem que, na realidade, o
tivessem feito sair do estado de coma, em que o deixara prostrado a morte do seu
progenitor.
A procura de uma nova acalmação –
Canto e Castro convida Nunes da Ponte, republicano e católico,
antigo ministro de Pimenta de Castro, para formar governo, mas este desiste (19
de Dezembro). Unionistas aproximam-se do presidente e aprovam uma moção nesse
sentido. Funerais de Sidónio nos Jerónimos. Há incidentes, com tiros, na Rua
Augusta (21 de Dezembro).
Governo nº 69 de Tamagnini
Barbosa (35 dias, desde 23 de Dezembro). O presidente do ministério acumula
o interior e mantêm-se alguns dos anteriores titulares: nos estrangeiros, Egas
Moniz, ausente em Paris na Conferência de Paz, é logo substituído,
interinamente, por Azevedo Neves; no comércio, José Alberto Pereira de Azevedo
Neves; na instrução, Alfredo Magalhães; no trabalho (Forbes Bessa); na
agricultura (Fernandes de Oliveira); e nos abastecimentos (Capitão José da Cruz
Azevedo), adepto do republicanismo. Como salienta Jesus Pabón,
este governo, que a todos quis agradar, não agradará a
ninguém.
Tamagnini será grão-mestre da maçonaria do rito
escocês em 1933, organização a que pertence desde 1911. Sucessivamente,
evolucionista, camachista, centrista, sidonista, liberal e nacionalista. Revela
o trajecto típico do republicano não alinhado com o afonsismo e o situacionismo
da I República. Sucede a Sidónio, depois deste ser assassinado, mas não
consegue, como líder dessa transição, assegurar a permanência institucional dos
sidonistas depois de 1919. Nasce em Macau, onde é educado pelos jesuítas.
Oficial do exército. Candidato a presidente da república, derrotado em 1911,
quando se apresenta como esquerdista contra o PRP. Circula entre os apoiantes de
Brito Camacho. Membro do Partido Centrista Republicano que em 1917 se destacou
dos evolucionistas (companheiro de Egas Moniz e Malva do Vale). Um dos
conspiradores do dezembrismo, por banda dos camachistas. Abandona os unionistas
quando estes saem do governo de Sidónio.
Juntas
Militares – Em finais de Novembro de 1918, surgem Juntas Militares,
disponíveis para a constituição de um governo militar, no caso de Sidónio sofrer
algum atentado. No Norte são dirigidas pelo coronel Artur Silva Ramos e no Sul
pelo coronel João de Almeidaö . Depois da morte de
Sidónio, já no dia 18 a Junta Militar do Porto faz uma proclamação onde pede um
ministério de força. Têm o apoio do então ministro da guerra, Álvaro
Mendonça. No próprio dia em que Tamagnini Barbosa constitui governo, 23 de
Dezembro, João de Almeida tenta um pronunciamento militar monárquico, levando
vários regimentos para Monsanto. Não alinham as unidades de infantaria
comandadas pelo tenente-coronel Pimenta de Castro nem as de engenharia. No dia
26, os revoltosos ocupam o parque Eduardo VII e delegados dos mesmos avistam-se
com Canto e Castro e Tamagnini Barbosa. O general Garcia Rosado, pela persuasão,
consegue que os revoltosos se retirem. Como assinala Cunha Leal, a
congregação sidonista do republicanismo moderado com o religiosismo católico
veio a soçobrar, já depois da sua morte, por força do irredentismo monarquizante.
E o sidonismo que poderia assumir-se como uma espécie de terceira bandeira, vai
perder-se na bipolarização entre talassas e formigas.
Mortos pela pneumónica em
Dezembro: 22116.
& Camacho, Brito (Ferroadas, 1932): 266; Chagas, João (Diário III): 10, 11; Caetano, Marcello (A Depreciação...): 291, 294; (1961): 57, 61; Cruz, Guilherme Braga (1975): 527, 530, 531, 644, 646, 647; Cruz, Manuel Braga da: 171, 256, 271, 274; Gouveia, Rosa: 33; Leal, F. Cunha (1966) II: 63 ss., 81, 82, 83, 85, 88, 90, 92, 111, 113, 116, 121, 127, 129, 135, 139; Lima, Sebastião de Magalhães (I): 241; Lourenço, J. M.: 137, 204, 207; Marques, A. H. Oliveira (1991): 265, 469, 477, 499; (As Estruturas...): 519; Martins, Francisco da Rocha – Memórias...: 192; (1929): 497 ss.; Medina, João (1994); Moncada, Luís Cabral de (1992): 118; Peres, Damião (1954): 172, 173, 174, 175, 176, 178, 179, 180, 181, 183, 186, 187, 203, 204, 205, 206; Pessoa, Fernando (1978): 239; Ramos, Rui: 216, 527, 616, 617, 619; Serrão, Joaquim Veríssimo (XI): 196 ss.; Vieira, Alexandre (1970): 121 ss., 136; 183.