Governo de Ávila (1870-1871)
1870 Da Saldanhada
a nova transição avilista
1871 Da
proibição das Conferências do Casino aos 2001 dias de governo fontista
Governo
nº 33 de Ávila (desde
29 de Outubro de 1870, 320 dias). O gabinete, liderado por um conde
feito por Loulé, marquês por Saldanha, e que será duque por Fontes (Lopes
d'Oliveira), mantém todos os membros do anterior gabinete, à excepção de Sá da
Bandeira. O primeiro a ser convidado foi Alves Martins, que declina
a tarefa. O órgão dos reformistas, o Diário Popular¸ chega a dizer: pois,
governem esses ministros, mas lembrem-se que o fazem por generosidade nossa.
Conforme
texto coevo de Eça, um ministério é um grupo casual de indivíduos que
intrigaram para estar ali.
Presidente
acumula o reino. Ministros constantes são Carlos Bento da Silva, na fazenda
(acumulará as obras públicas a partir de Março de 1871); José Maria Morais
Rego na guerra; e José Eduardo de Melo Gouveia (1815-1893), na marinha (acumulará a
justiça). Seguem-se dois reformistas propriamente ditos: Alves Martins no
reino (até 30 de Janeiro de 1871); Augusto Saraiva de Carvalho (1839-1882)
na justiça (até 30 de Janeiro de 1871).
Reformista,
palavra farfalhuda, mas oca – Porque motivo são reformistas de oposição
hoje os que eram reformistas governamentais ontem? Os reformistas
ignoram qual é a divisa que os separa pela mesma razão que nunca souberam
qual é o mote que os reunia. Um partido sem conhecimentos, sem
princípios, sem bases de trabalho, sem plano de administração, sem consciência
de progresso e sem carta, nem guia, nem lógica de acção, não tendo razão
para existir, também não tem razão para deixar de ser. Reformista é uma
palavra farfalhuda, mas oca, nome convencional sem objecto em política (Ramalho
Ortigão, criticando o avilismo).
Remodelação
– Em 30 de Janeiro de 1871: Ávila substitui Alves Martins no reino,
de foma interina. José de Melo Gouveia na justiça, de forma interina.
Governo de Ávila |
De 29 de Outubro de 1870 a 13 de Setembro de 1871 320 dias |
12º governo da Regeneração 9º governo sob o reinado de D. Luís |
Promove as eleições de 9 de Julho de 1871 (governamentais não obtêm maioria própria) |
·O presidente começa por acumular os estrangeiros e as obras públicas (até 1 de Março de 1871). Acumulará depois o reino (desde 30 de Janeiro de 1871). Ministros constantes são · Carlos Bento da Silva, na fazenda (acumulará as obras públicas a partir de Março de 1871); · José Maria Morais Rego na guerra; · José Eduardo de Melo Gouveia, na marinha (acumulará a justiça). Outros: · Alves Martins no reino (até 30 de Janeiro de 1871); · Augusto Saraiva de Carvalho na justiça (até 30 de Janeiro de 1871)[1] |
·Alves Martins não quis formar governo. Oposição parlamentar de Dias Ferreira. Há uma certa continuidade face ao anterior gabinete, mantendo-se todos os membros do governo, à excepção de Sá da Bandeira. Alves Martins e Saraiva de Carvalho são os dois reformistas que se demitem em Janeiro de 1871, depois dos respectivos correligionários, sob a liderança de Latino Coelho, terem desencadeado um processo de oposição parlamentar, a propósito nomeação do patriarca de Lisboa. Com efeito, Saraiva de Carvalho levou ao rei, sem passar por Ávila, a nomeação do bispo do Algarve, D. Inácio do Nascimento Morais Cardoso, considerado liberal, capelão de D. Pedro V, em vez da do arcebispo de Goa, D. João Crisóstomo de Amorim Pessoa, apoiado por Ávila, acusado de congreganismo romano e ultramontanismo. Ramalho Ortigão questionava Porque motivo são reformistas de oposição hoje os que eram reformistas governamentais ontem?, acrescentando que os reformistas ignoram qual é a divisa que os separa pela mesma razão que nunca souberam qual era o mote que os reunia. Um partido sem conhecimentos, sem princípios, sem bases de trabalho, sem plano de administração, sem consciência de progresso e sem carta, nem guia, nem lógica de acção, não tendo razão para existir, também não tem razão para deixar de ser. Reformista é uma palavra farfalhuda, mas oca, nome convencional sem objecto em política[2] ·Em 2 de Janeiro de 1871, as cortes são adiadas por 32 dias até 3 de Fevereiro de 1871. Em 3 de Fevereiro de 1871, por 36 dias, até 11 de Maio de 1871. |
Em 30 de Janeiro de 1871: ·Ávila substitui Alves Martins no reino, de foma interina. ·José de Melo Gouveia substitui Saraiva de Carvalho na justiça, de forma interina[3]. |
·Os reformistas no Diário Popular de 4 de Fevereiro observam: Pois governem esses ministros, mas lembrem-se de que o fazem por generosidade nossa. Acusam Carlos Bento da Silva de mentor da crise. Partido histórico decide manter apoio ao governo em 10 de Fevereiro. Alves Martins volta para Viseu. ·Extingue-se o ministério da instrução e elimina-se a reforma administrativa descentralizante. Sofre-se o choque da Comuna de Paris e começa a falar-se nuns Estados Unidos da Europa. Em Maio de 1871, Ramalho Ortigão e Eça de Queirós começam a publicar As Farpas. Conferências do Casino ( de 22 de Março a 26 de Junho de 1871). Anuncia-se a formação do partido constituinte de Dias Ferreira, o inspirador civil da Saldanhada (Junho de 1871). |
Em 1 de Março de 1871: · José Marcelino de Sá Vargas substitui Melo Gouveia na justiça; · Visconde de Chanceleiros, Sebastião José de Carvalho assume a pasta das obras públicas, substituindo Ávila |
·Fala-se de um entendimento entre Ávila e Sá da Bandeira. Dias Ferreira anuncia a intenção de criar um novo partido. O grupo é acusado de ser o centro político Saldanha-Peniche, contando com a participação de Sena de Freitas e do conde de Magalhães[4] (Fevereiro/ Março) ·Em 3 de Junho de 1871, a Câmara dos Deputados, onde havia uma maioria reformista, foi dissolvida. |
[1] VERÍSSIMO SERRÃO, IX, pp. 54-55; DAMIÃO PERES, VII, p. 407.
[2] RAMALHO ORTIGÃO, Correio de Hoje, Tomo II, p. 73
[3] Ver RAMALHO ORTIGÃO, Correio de Hoje, Tomo II, p. 63, artigo Está sanada a crise!
[4] Idem, pp. 116 ss.
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Política e Estratégia. © José Adelino Maltez. Cópias autorizadas,
desde que indicada a origem. Última revisão em:
31-03-2009