Da ascensão de Fidel Castro à coexistência pacífica
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Cosmopolis
© José Adelino Maltez, História do Presente, 2006
O gaullismo institucionaliza-se
Da integração na Europa à revolta da Sé
Brigitte Bardot, Fidel de Castro e coexistência pacífica – Quando já está em pleno o regime da V República em França e Brigitte Bardot se destaca no cinema, assinala-se o triunfo da revolução castrista em Cuba (1 de Janeiro), com a conquista de Havana pelos guerrilheiros de Fidel de Castro e a fuga de Fulgencio Batista, que se há-de refugiar no Estoril. Dá-se também a expulsão do Dalai Lama do Tibete (31 de Março), depois de uma revolta independentista, duramente reprimida pelo governo de Pequim, e a vitória eleitoral dos conservadores britânicos (8 de Outubro), para além do encontro de Eisenhower e Khruchtchev em Camp David (25 de Setembro), onde se consagra o princípio da coexistência pacífica e do chamado apaziguamento ideológico, procurando-se a contenção da corrida armamentista. Entre nós, o PCP lança as chamadas Juntas de Acção Patriótica que, em1962, passam a integrar a FPLN e surgem as revistas Tempo Presente e Cidadela, enquanto é aberto concurso público para a construção da nova ponte sobre o Tejo (27 de Abril) e se inaugura em Almada o monumento do Cristo Rei, uma espécie de réplica do monumento do marquês de Pombal, agora com a Igreja Católica a comemorar a nossa não entrada na guerra (17 de Maio), bem como o Hospital de São João no Porto (24 de Junho) e o Metropolitano em Lisboa (29 de Dezembro), num tempo em que também recebemos a visita do presidente Sukarno da Indonésia (15 de Maio) e que assistimos à morte do Almirante Gago Coutinho (18 de Fevereiro) e ao incêndio da simbólica Igreja de São Domingos (13 de Agosto).
Da integração na Europa à revolta da Sé
Da ascensão de Fidel de Castro à coexistência pacífica ä Nasce a V República em França ä Falha o grande salto em frente na China ä Revolta anticomunista no Tibete
M Fuga de Henrique Galvão ä Revolta da Sé ä Revolta do Pidjiguiti em Bissau ä Greves
Lei de 29 de Agosto altera a Constituição. Presidente da República passa a ser eleito por um colégio eleitoral
Da ascensão de Fidel Castro à coexistência pacífica
- Nasce a V República em França
- Vitória dos conservadores
- Fidel Castro no poder
- Falha o grande salto em frente na China
Jacques Maritain, em 1939
Cedo ou tarde, no fim das presentes convulsões ou depois de outros sofrimentos, uma solução federal aparecerá como a única saída para a Europa e igualmente para a própria Alemanha...
Com uma Europa inorgânica, dividida em Estados rivais apoiando ciosamente todos os privilégios da sua soberania, uma Alemanha mantida pela força numa condição de culpabilidade e de divisão transformaria fatalmente a sua tenacidade e a sua energia em reivindicações envenenadas, que de novo conduziriam o mundo à ruína
Charles De Gaulle
A França é uma das três potências mundiais e, se um dia for necessário, o árbitro entre os dois campos
XX Congresso do PCUS
Na corrente década a União Soviética, enquanto cria a base técnico-material do comunismo, ultrapassará per capita a produção do mais poderoso e rico país capitalista - os Estados Unidos
Fidel de Castro
Nem eu, nem o movimento são comunistas
Em França, o gaullismo institucionaliza-se com um novo governo presidido por Michel Debré, com Couve de Murville nos estrangeiros (8 de Janeiro. O presidente francês que considera a Gália, como uma das três potências mundiais e, se um dia for necessário, o árbitro entre os cois campos, emite um primeiro sinal de independência face à NATO, quando decide manter, em caso de guerra, um comando nacional para os navios estacionados no Mediterrâneo (11 de Março), enquanto Debré chega a prevenir contra a servitude face a uma nação estrangeira (15 de Agosto). Este processo não obsta a que De Gaulle reconheça o direito à autodeterminação da Argélia (16 de Setembro) e não anuncie em Dakar que a Comunidade Francesa evoluirá para um grupo de Estados independentes (13 de Dezembro de 1958).
É nesse ano que, em Espanha, se institui a ETA (Euzkadi Ta Azkatasuna, literalmente O País Basco e a Sua Liberdade), grupo terrorista que invoca como pretexto a libertação do país basco relativamente ao Estado Espanhol. Nascido das juventudes do clássico Partido Nacional Basco, invoca uma ideologia independentista conforme as fórmulas do marxismo-leninismo e do trotskismo, adoptando o princípio da luta armada desde 1961, começou por assassinar um polícia e1968 par, em 1973, se consagrar no acto espectacular que liquidou o almirante Carrrero Blanco, então presidente do governo espanhol.
XXI Congresso do PCUS (27 de Janeiro a 5 de Fevereiro) XXI (1959) De 27 de Janeiro a 5 de Fevereiro. Ataque ao grupo antipartido (Malenkov, Molotov, Kaganovitch). Aprovado no plano para Sete anos. Declaração final: o socialismo alcançou na URSS uma vitória total e definitiva.
Plano Septienal Mas o Sexto Plano é logo abandonado em1957 e, em 5 de Fevereiro de 1959, quando se concluiu o XXI Congresso do PCUS, iniciado em 27 de Janeiro, adopta-se um plano septienal (1959-1965).
Conforme as orientações aprovadas pelo mesmo congresso, na corrente década a União Soviética, enquanto cria a base técnico-material do comunismo, ultrapassará per capita a produção do mais poderoso e rico país capitalista os Estados Unidos.
Este optimismo propagandístico proclamava também que o desenvolvimento da democracia, a participação de todos os cidadãos na edificação económica e cultural, a gestão dos assuntos sociais, constituem o elemento essencial no desenvolvimento da estrutura socialista do Estado.
Assim, importava tanto a construção das bases materiais e técnicas do comunismo como a educação do homem do futuro e o desenvolvimento entre os soviéticos da moral comunista.
Em Marrocos, o partido Istqlal, que está no poder desde Maio de 1958, vê surgir uma dissidência de esquerda, liderada por Ben Barka, que cria a União Nacional das Forças Progressistas. Este líder político será assassinado em Paris em Outubro de 1965.
No Egipto, Nasser lança uma ofensiva contra os oposicionistas, religiosos, sindicais e políticos (1 de Janeiro de 1959), sendo especialmente duro para com os comunistas.
No Iraque, novo golpe de Estado (7 de Março de 1959), liderado pelo general Kassen, reforça um modelo semelhante ao estabelecido no Egipto e na Síria, retirando o país do Pacto de Bagdade, obrigando a em 21 de Agosto de 1959 se estabelecesse entre os restantes fundadores do mesmo uma nova aliança, o Central Treaty Organization (CENTO), com a sede em Istambul.
Mensário 1959
Janeiro
Fidel no poder e começo do mercado comumFevereiro
Acordo para a independência de Chipre, Aldo Moro na liderança da DCI e MacMillan na URSSMarço
Revolta no Tibete, Iraque fora do Pacto de Bagadad e De Gaulle a fugir do controlo da NATOAbril
Breves ilusões de unidade africana e terrorismo argelino em FrançaMaio
Um novo partido em Marrocos e reforma agrária em CubaJunho
Moscovo e Pequim acabam acordo nuclear e De Gaulle recusa instalar mísseis da NATOJulho
Prevista a criação da EFTA e CEE adopta a bandeira azul das doze estrelasAgosto
Coexistência pacífica em convites de viagem, comunas populares na China e anti-americanismo de ParisSetembro
Khruchtchev em cimeiras com Eisenhower e MaoOutubro
Conservadores vencem eleições britânicasNovembro
Negociada a EFTA e SPD abandona o marxismoDezembro
Comunidade Francesa, o começo do fim e Eisenhower em tournée
1959
No ano de 1959, quando já está em pleno o regime da V República em França, destaca-se o triunfo da revolução castrista em Cuba (1 de Janeiro de 1959), com a conquista de Havana pelos guerrilheiros de Fidel de Castro e a fuga de Fulgencio Batista, que se há-de refugiar no Estoril, enquanto a China comunista expulsa o Dalai Lama do Tibete (31 de Março), depois de uma revolta independentista, duramente reprimida pelo governo de Pequim. Dá-se também a vitória eleitoral dos conservadores britânicos (8 de Outubro), para além do encontro de Eisenhower e Khruchtchev em Camp David (25 de Setembro), onde se consagra o princípio da coexistência pacífica e do chamado apaziguamento ideológico, procurando-se a contenção da corrida armamentista.
O conflito com Monnet. O ataque à tecnocracia supranacional
No plano da integração europeia, importa salientar que os sete membros da OECE que não estavam integrados na CEE, reunidos em Saltjosbaden, nos arredores de Estocolmo, começaram as negociações que hão-de levar à criação da EFTA (1 de Junho), de acordo com um plano sueco de desarmamento aduaneiro progressivo. O processo leva a um projecto de Convenção de Estocolmo (20 de Novembro), onde são membros fundadores Áustria, Dinamarca, Noruega, Portugal, Reino Unido, Suécia e Suiça.
De Gaulle Em 29 de Maio de 1958, poucos meses depois da entrada em vigor do Tratado de Roma, eis que o General Charles De Gaulle, considerado como uma espécie de bête noire pelos europeístas franceses, dadas as posições que tinha frontalmente assumido contra a CECA, a CED e a própria CEE, assumiu plenos poderes em França, tendo em vista a superação da revolta dos pieds noirs. Insurgindo-se contra construção apátrida DE Gaulle, p. 169 em que se enredava o projecto europeu, De Gaulle vem reclamar a necessidade de repolitização do processo, denunciando as teias tecnocráticas que o estavam a enredar. A história da posição de De Gaulle face ao projecto de construção europeia prende-se desde logo com as divergências estratégicas que sempre o distanciaram de Monnet, a quem pejorativamente chamava o inspirador, ou como alguém marcado pelo patriotismo norte-americano.
Um patriota … norte-americano
Com efeito, as relações entre o general e o inspirador não eram famosas, desde que se cruzaram em 1940, por ocasião da projectada fusão franco-britânica, e, principalmente quando, em 1943, tiveram profundas desinteligências em Argel, a propósito da questão do general Giraud, que, com o apoio norte-americano, se assumia como o rival de De Gaulle.
De Gaulle insinuava o patriotismo norte-americano de Monnet, dizendo que ele não é um francês a soldo dos americanos, é um grande americano SAMPSON, p. 33.
De facto, Monnet tinha estreitas relações com inúmeras personalidades desse país, desde Dean Acheson, que fora Secretário de Estado entre 1949 e 1953, a George Ball, futuro membro da administração Kennedy, que chegara a ser conselheiro jurídico de Monnet, tanto no comissariado francês do plano, como junto da Alta-autoridade da CECA. Também eram íntimas as relações de Monnet com John McCloy, comissário americano em Bona.
Contra a tecnocracia
Por outro lado, De Gaulle assumia uma posição contra a dominante tecnocrática da construção europeia, acentuando a necessidade de uma politização do processo. Tal como tinha uma certa idée de la France, também tinha uma vincada ideia da Europa, feita à imagem e semelhança da primeira, dado considerar caber à sua pátria um papel europeu.
De Gaulle é dos primeiros a utilizar o poder errático de uma média potência, um poder funcional que pôde desequilibrar as relações de força estabelecidas num misto de ousadia e de convicção, e , sobretudo, entendendo que o poder não é uma coisa, mas sim uma relação
Se é possível inventariar uma série de contradições terminológicas
Nos finais dos anos quarenta, princípios dos anos cinquenta é possível encontrarmos uma série de discursos De Gaulle, onde A terminologia gaullista sobre a Europa, antes da tomada do poder, nem sempre correspondia às suas tomadas de posição contra a CECA, a CED e o próprio Tratado de Roma. Várias vezes utilizou a expressão federação, como sinónimo do que entendia por construção europeia. Num artigo de 1948 dizia que A Europa deverá ser uma federação de povos livres. Posição que aliás vai manter em 25 de Junho de 1950, numa reunião do RPF, e em 22 de Junho de 1951, numa conferência de imprensa.
Só mais tarde é que substitui a expressão federação pela de confederação, mas sem diabolizar a primeira, dado que o seu alvo de ataque sempre foram as tentativas suprancionais.
© José Adelino Maltez, História do Presente (2006)
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