1968
Maio de Paris e Primavera de Praga
Cosmopolis
© José Adelino Maltez, História do Presente, 2006
1968
Concretizada a União Aduaneira na CEE
Maio 68 em França
Jugulada a Primavera de Praga
Assassinato de Robert Kennedy e Luther King
Vitória de Nixon
Ofensiva do Tet no Vietname do Sul
Vitória de Nixon
CNUCED II em Nova Delhi
Maio de Paris e Primavera de Praga
– No plano internacional, destacam-se os assassinatos de Robert Kennedy (5 de Junho) e Martin Luther King (4 de Abril), bem como a eleição de Richard Nixon para presidente norte-americano (Novembro). Isto no ano em que se realiza a união aduaneira da CEE, com a eliminação total dos direitos entre os Seis e o estabelecimento de uma taxa aduaneira comum (1 de Julho), enquanto se institui o princípio da liberdade de circulação de trabalhadores (8 de Novembro). Rebenta a crise estudantil parisiense do Maio de 1968 e dá-se também a ascensão e queda da chamada Primavera de Praga. Tudo começa com a eleição de Alexander Dubcek para líder do partido único checoslovaco (05 de Janeiro) e com aparecimento de um novo presidente da república, Svoboda (30 de Março), seguindo-se a reabilitação das vítimas do estalinismo e a supressão da censura (30 de Junho). Tudo termina com a intervenção directa das tropas do Pacto de Varsóvia (21 de Agosto), logo aplaudida pelos comunistas portugueses, já rigorosamente disciplinados pela austeridade de Álvaro Cunhal. Em 12 de Outubro, a Espanha de Franco concede independência ao território da Guiné Equatorial.
Homens em tempos sombrios e teologia da libertação
A chamada doença da prosperidade da sociedade de consumo manifesta através de sucessivas revoltas estudantis, com destaque para o processo da universidade de Nanterre em Paris (22-03-1968), que vai desencadear o chamado Maio1968, num tempo de men in dark time (Arendt,1968), quando Amitai Etzioni publica The Active Society, Arend Lijphart, analisando o pluralismo holandês, reflecte sobre The Politics of Accomodation, e Leo Strauss reflecte sobre Liberalism Ancient and Modern, quando em França, Jean-William Lapierre editava Essai sur les Fondements du Pouvoir Politique. Nesse mesmo ano realiza-se a Conferência de Medellin do episcopado sul-americano, onde, invocando-se a libertação, a promoção do homem e o desenvolvimento integral, se criticam os pecados sociais da violência institucionalizada e da dependência. É então que o padre Gustavo Gutierrez inventa a fórmula teologia da libertação. Este movimento teológico católico tem paralelo com o movimento protestante da teologia da esperança e dele deriva o processo da teologia da revolução, de carácter marxista, marcante nos anos setenta. A teologia da revolução defendia a conciliação entre o catolicismo e o marxismo e que levou alguns a considerar o guerrilheiro como um jesuíta da guerra ou um Frei Beto a declarar que um cristão é um comunista, mesmo que o não queira e que um comunista é um cristão, mesmo que não creia. Mas a teologia da libertação é um movimento bem mais amplo que passa pelas obras de Jürgen Moltmann, Metz, Harvey Cox. Acontece que a teologia da libertação foi incrementada a partir do Maio de 68 como uma teologia para a revolução, onde o reino de Deus passou a ser considerado como a revolução de todas as revoluções (Helmut Gollwitzer) ou como a salvação da revolução (Jürgen Moltmann), opondo-se à teologia do desenvolvimento e superando a teologia dita da impugnação. Ela transformou-se numa teologia da violência, em oposição aos que defendiam uma ética da não violência.
Conferência Internacional dos Direitos do Homem
Emitida pela Conferência Internacional dos Direitos do Homem de 13 de Maio de 1968, onde se recorda que uma vez que os direitos do Homem e as liberdades fundamentais são indivisíveis, é impossível gozar completamente de direitos civis e políticos sem gozar de direitos económicos, sociais e culturais.
Fim da Revolução Cultural
Com efeito, no XII Plenário do VIII Comité Central, realizado de 13 a 31 de Outubro de 1968, onde se preparou o IX Congresso do PCC, que se vai realizar em Abril de 1969, foi posto um fim legal à Revolução Cultural, depois de, em Agosto e Setembro anteriores, se terem liquidado as organizações de guardas vermelhos e de rebeldes revolucionários.
Woodstock, Festival de
Realizou-se em Agosto de 1968, no interior do Estado de Nova Iorque, o chamado Woodstock Festival of Life que constituiu o ponto alto da chamada contra-cultura norte-americana, reunindo cerca de meio milhão de jovens que misturavam o activismo de esquerda, o gosto pela música rock e o consumo de droga, proclamando o make love, not war.
Technik und Wissenschaft als Ideologie
Habermas, J., Confronto entre as categorias de técnica e de ciência. Define a técnica como o poder racionalizado científicamente através de processos objectivados. Analisa dois modelos de relação entre a técnica e a política: o modelo decisionista e o modelo tecnocrático. No primeiro, o mundo dos valores comanda a técnica, transformando esta num meio ao serviço dos fins, dos valores. No modelo tecnocrático, são as lógicas próprias da técnica que impõem as suas escolhas à prática política. Opta pelo primeiro modelo porque há dois tipos de racionalidade, uma para as questões técnicas e outro para as questões práticas
Liberalism Ancient and Modern
Obra de Leo Strauss onde se faz a análise da educação liberal e do liberalismo da filosofia política clássica. Notas sobre Lucrécio, Marsílio de Pádua e Espinosa. Perspectivas sobre a boa sociedade. Nesta obra fala no liberalismo como o contraponto do conservadorismo. (cfr. trad. fr. Libéralisme Antique et Moderne, Paris, Presses Universitaires de France,1990).
The Counter Revolution
Molnar, Thomas Húngaro, professor em Nova Iorque de literatura francesa e história das ideias. Teórico contra-revolucionário. Considera que a revolução ocorre no momento em que o ancien régime dá mostras de tolerância e começa a fazer concessões, as quais mais não são do que sinais de debilidade e resultam da fortaleza. Observa também que o adversário que promove a revolução é, sobretudo, marcado pela république des lettres. Neste sentido, quase defende, como Mussolini, que qualquer regime tem o dever de de durar.
·
The Decline of IntellectualsCleveland, Meridian,1961.
· The Counter Revolution
1969 [trad. fr. La Contre-Révolution, Paris, Union Générale d’Éditions,1972].
The End of Liberalism
Theodore J. Lowi, um dos teóricos norte-americanos que subscreve a tese do fim das ideologias, considerando não fazerem sentido as diferenças entre republicanos e democratas, ou entre conservadores e liberais, dado que tais polarizações, aparentemente contrárias, apenas reflectem os grupos de interesse que mobilizam.
· The End of Liberalism. The Second Republic of the United States
[ed. orig.1969], 2ª ed., Nova York, W. W. orton,1979.
· The Politics of Disorder
Nova York, Basic Books,1971.
Crises of the Republic
Hannah Arendt reuniu três ensaios: A mentira na política; Desobediência civil e Da Violência, acrescentando-lhe Reflexões sobre política e revolução. O primeiro ensaio é uma análise critica dos chamados Documentos do Pentágono, ou a história do processo norte-americano para a tomada de decisões em política vietnamita, encomendados por Robert McNamara em1967. Considera-os como embuste, auto-embuste, construção de imagem, ideologismo e desfactualização. No segundo ensaio, analisam-se os movimentos de desobediência civil norte-americanos da segunda metade dos anos sessenta, invocam-se as teses de Sócrates e de Thoreau e assume-se a necessidade do regresso a uma visão horizontalista da república norte-americano conforme as perspectivas dos pais-fundadores desembarcados com a Mayflower. Invoca-se a perspectiva do contrato social de John Locke, diverso da perspectiva teocrática do convénio bíblico e da tese verticalista de Hobbes. O contrato social de Locke guia não o governo, mas a sociedade, entendida como aliança. Tal contrato, se limita o poder de cada indivíduo, deixa intacto o poder da sociedade e o governo estabelece-se sobre o firme terreno de um contrato original entre indivíduos independentes. Assenta na reciprocidade, na força das promessas mútuas, pelo que a sociedade permanece intacta mesmo que o governo seja dissolvido. O governo recebe assim a sua força de um consentimento tácito geral e em vez de intimidar todos, une a todos. Há um conteúdo moral deste consentimento, assente no princípio do pacta sunt servanda. Critica o soberanismo, distingue poder e violência, defendendo o federalismo.
Praga
Dava-se também a ascensão e queda da chamada Primavera de Praga. Tudo começa com a eleição de Alexander Dubcek para líder do partido comunista checoslovaco (5 de Janeiro de 1968), e com aparecimento de um novo presidente da república, Svoboda (30 de Março de 1968), seguindo-se a reabilitação das vítimas do estalinismo e a supressão da censura (30 de Junho de 1968). Tudo termina com a intervenção directa das tropas do Pacto de Varsóvia (21 de Agosto de 1968).
Iraque
No Iraque, novo golpe baasista, liderado por Hassan el-Bakr (17 de Julho) afasta do poder Abdel Rahman Aref que, em Abril de 1966, havia substituído o irmão, promotor do golpe de 1963, que entretanto havia falecido num acidente aéreo.
O novo regime, que institui um Conselho da Revolução, tem como número dois, Saddam Hussein, e vai nacionalizar, em Junho de 1972, a Iraq Petroleum.
Nigéria
Na Nigéria, prossegue a guerra do Biafra, com o governo de Lagos a tomar as principais cidades até então detidas por Ojukwu, como Aba (4 de Setembro de 1968) e Owerri (16 de Setembro de 1968), o qual, em desespero de causa, pede ajuda à República Popular da China (29 de Setembro de 1968).
África
Em África, dá-se a independência da colónia espanhola da Guiné Equatorial (12 de Outubro de 1968), sob a autarcia de Francisco Macias Nguema, apenas deposto em1979. Tal território compreende tanto o Rio Muni, onde os espanhóis se instalaram a pasrtir dos finais do século XVIII, como a antiga ilha portuguesa de Fernando Pó, cedida à Espanha em 1778, onde os espanhóis instalaram uma colónia penitenciária em 1844.
Do mesmo modo, torna-se independente o Reino da Suazilândia (6 de Setembro de 1968).
As Maurícias obtêm a independência, dentro da Comoonwealth (12 de Março de 1968), transformando-se em República em 12 de Março de 1992.
No Mali é derrubado Modibo Keita e o modelo dito marxista-leninista em 19 de Novembro de 1968, subindo ao poder Moussa Traoré que promete devolver o poder aos civis, mas que é eleito e reeleito em1979 e1985, com a concentração do poder na União Democrática do Povo do Mali, apenas derrubado em Março de 1991, a que se seguiram as eleições de 1992, quando subiu ao poder a oposição da Aliança para a Democracia no Mali.
No Chade, o presidente François Tombalbaye decide pedir às tropas francesas estacionadas no país que tentem eliminar a resistência dos rebeldes muçulmanos no norte, liderados pela Frolinat, fundada em cartum em Junho de 1966. A operação não resulta, sendo, contudo, continuada até1972.
No Panamá sobe ao poder o general Omar Torrijos, que aí se mantém até1978 e que vai lançar o programa de desamericanização do Canal, conseguido em1977.
© José Adelino Maltez, História do Presente (2006)
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