Sphera, Spera, Sperança
Livro I
Das palavras imperfeitas
Escritos Inúteis
Arca dos poemas por fazer
Natura
rerum
Só sei que nada sei
Espera,
esfera, esperança
Primum vivere, deinde philosophari
Corpo de
escrever poemas
Ser é escrever-me
Um certo
desencanto vai cercando minha esperança
Sebastião da serra mãe
Memória
de São Francisco
Este beira-mar que somos
Livro II
Do regresso sem regresso
A andorinha prometida
A força do silêncio, o tempo que há-de vir
Voltei a ser quem sempre fui
Na íntima sombra do mosteiro
Todo o tempo ficou à nossa espera
Foi num aqui e agora
Um adeus que não houve
Quando formos quem
sempre fomos
Não
pensar, viver, sentir
Amanhã, há-de ser mar
Relembrar
para devir
Corpos nos corpos
Lá longe, para além da serra
Amanhã tem de ser, em qualquer lugar
Que tua voz me acorde e me recorde
No mais
puro segredo de quem sou
Somos o sítio onde estamos
Dois
corpos, uma conversa
Na filigrana do sentimento
A íntima fronteira
Ao signo
que prossigo
No dia a dia dos dias
que passam
Um pedaço de silêncio
onde me guarde
Perto, cada vez mais perto
Aqui,
onde quem sou me esquece
Nesta viagem sem regresso
Tentei esquecer-te, tentei esquecer-me
Quando corpos dentro de corpos
Livro III
Da utopia que não há
Viver como penso
O fim
que vem depois do fim
Utopia não há nem vale a pena
O
além é o que falta
No
princípio era o método
Vivendo saudade
Só contigo sou
Ser
para sempre o devagar
Nossa utopia são
Na raiz de quem sou
Soletrar teu corpo
Só nós
dois, longe do mundo
Pousar meu ser
Um peso leve dobra meu corpo
Palavra a
palavra, disseminado
Só quando estou contigo me recordo
Ver-me de cima, além da vida
Dia a dia, poemizar meu ser
Este povo por
fazer
Interiorizar este pedaço de mundo
Sou apenas a decadência de quem sou
Uma bússola
secreta
Entre nós dois, eternidade
Não tenho
mestre nenhum
O
amor só uma vez se
sente
A cidade
nos deu saudade
Volto a dizer as palavras simples
Deixar sonhar que não somos proibidos
Livro IV
Somos o
sítio onde estamos
Há uma
estátua quioca…
Minha cadela
podenga
Aqui na
praia do Lizandro
Tudo me dá
lembrança
Estar sozinho, mas
estar contigo
Apetecia ter um cão que servisse apenas de cão
Saem
traineiras da barra
Todos os dias, na
senda dos dias
Chegou a primavera
Sítios africanos que
persistem
Ciclo açoriano
Já não sei dizer Natal
como sabia
Viagem ao fim do Império
Os sonhos partiram
Prende-me a descoberta
Eis meu ser feito de
palavras
O exótico das coisas
mais simples
Aqui, ganhamos tempo
Neste extremo do Oriente
Em Macau não deixei de ser
A minha pequena pátria
natal
Pátria também é árvore
Eis meu nome singular
Do pai de meu pai
Da mãe de minha mãe

Copyright © 1998 por José Adelino Maltez. Todos os direitos reservados.
Página revista em:
10-12-2003.